Pedro P- Jorge, amanhã vais connosco ao rio!
Jorge P – Vou aonde?...
Pedro P – Ao rio! Já está tudo tratado. Já falei à Graça e ela deixa ir o Miguel sem exigir muito em troca ( confecção de jantar todos os dias durante um mês, 8 lavagens semanais da loiça durante 2 meses, banhos aos miúdos durante 3 meses e corte de todas as ervas daninhas do terreno durante toda a vida)!
Jorge P – Mas espera aí….
Pedro P – Não espero nada! Vais Buscar a chave do meu carro que está enterrada algures no meu terreno e depois pegas no carro que tem as minhas coisas dentro e vens ter comigo a T. Novas. Ah!.... já me esquecia,… a pá para desenterrares as chaves está encostada à casota do cão!
Jorge P- Mas eu não pos…
Pedro P- Ouve, aquilo da chave era a brincar. Podes descobri-la debaixo de um dos pneus do meu carro. Só o precisas de levantar..com algum jeitinho.
Jorge P – Epá! (todas as escutas têm de ter um “epá” pelo meio e já agora uma asneira ) deixa-me falar porra (aqui está ela)!
Pedro P – Ouve Jorge, espero-te aqui à noite para arrancarmos amanhã cedinho para V. Cambra!
Jorge P- Mas eu tenho de acabar a minha casa!...Não vai dar…
Pedro P – Acabar o quê?.....(silêncio de quem está a conter a gargalhada)…..Deixa-te disso! Tens mais 23 anos para acabares essa … construção!
Jorge P – Depois o cimento aumenta, e os tijolos ficam pela hora da morte…
Pedro P- Se começas com muitas merdas, mando-te aí uns capangas e eles acabam-te a casa num instante!
Jorge P- Epá isso é que não! …A que horas é que é para estar aí?
E foi assim que a pressão ilícita chegou ao mundo da canoagem. Primeiro o aliciamento; depois a ameaça …Felizmente estamos em Portugal e os tipos do Ministério Público estão mais interessados em resolver os verdadeiros casos de corrupção,…bom,… resolver?,…vá,….tentar resolver?.....fingir resolver?....não resolver?,….esqueçam lá isso.
Lá apareceu o Jorge à hora marcada. Depois percebeu a pressão do Pedro para ir ao rio. Estrear a sua pagaia nova…feita com materiais velhos!? Uma verdadeira obra de reutilização que o deixou muito orgulhoso. E era para estar! Não gastou dinheiro nenhum e construiu uma pagaia à sua medida: grande e pesada… A sua dúvida seria se a mesma conseguia flutuar no líquido, dado que o seu peso aspirava mais a funcionar como lastro. O Jorge não se ficou atrás e, também ele, construiu a sua pagaia, toda ela elaborada com material do mais fino ...chumbo. Apesar do esforço, não conseguia contudo, rivalizar com o mastodonte do Pedro.
No domingo choveu todo o dia em V. de Cambra e, depois de ver o grande caudal no rio Caima, convenci os meus companheiros a trocarmos o desfiladeiro do Paiva(inicialmente previsto) pelo rio Frades, que ainda nenhum de nós conhecia.
Pedi informação do local de embarque ao Luís Vieira e lá fomos até à entrada no rio. Quando chegámos lá percebemos que se calhar, não tinha chovido o suficiente.
O Pedro estava contra a descida e eu e o Jorge estávamos numa de descer para conhecer. Tivemos de exercer pressão ilícita para o convencer a descer (dissemos que caso não descesse, arranjávamos uns capangas para lhe roubarem a pagaia e fazerem dela uma âncora de petroleiro) . O Pedro Lá foi contrariado. O rio estava esplêndido, fabuloso, com um caudal espectacular, extraordinário…Agora que já terminei este intenso exercício de auto-convencimento, tenho de admitir que….(o que isto me vai custar),….o Pedro tinha razão! Pronto, consegui dizer. É verdade, o rio estava feito para ficar lá algum plástico dos nossos bonitos caiaques e quiçá parte da nossa carroçaria óssea.
Fez-se tudo, algumas zonas(muitas) mais arrastadas do que outras(poucas). Para a história ficarão: o Bate Côxa do Pedro num calhau cuja vibração produziu uma espécie de maremoto no rio Frades; a amolgadela do novo caiaque do Pedro, num outro calhau do percurso; A cara do Pedro depois de olhar para a transfiguração do seu caiaque; o salto feito por um Pedro Furioso com tanto calhau.
Só P'ra mostrar a pagaia
Depois da descida ainda colocámos a hipótese de rumar ao Paiva, para ver se remávamos um poucachinho, mas depois de despir os fatos, e pensarmos na coxa de frango que nos esperava em Arouca, decidimos que colocar fatos molhados sobre a epiderme não era para nós.
Existiu num entanto, um fenómeno curioso: A tosse que me perseguia há alguns dias, desapareceu durante a descida do rio. Fiquei sem a mais ténue pieira ou catarro. O meu cof, cof, deu lugar a um som estranho que ainda hoje estou para perceber o que significa. Era qualquer coisa do género “quac,quac…”
Penugem versão "National Geografic"
Hoje, ainda estamos num processo de recuperação psicológica e de vez em quando ainda tiramos uma ou outra penugem do dorso. Pressinto que não faltará muito para o SIS descobrir uma nova escuta telefónica:
Pedro P – Ó Miguel! Já está tudo pronto, para amanhã irmos ao desfiladeiro!
Miguel P- Epá (aqui está ele outra vez) não posso!
Pedro P- Já disse ao Jorge que lhe mandava uns capangas acabarem-lhe a casa e tu, se não te pões pianinho, ato-te a minha singela pagaia ao costázio e mando-te um encontrão para o rio!
Miguel P – A que horas é para estar pronto?...
O Micro- VIDEO Aqui...
E para terminar, deixamos esta montra de uma Companhia de Seguros em Arouca...Sem comentários...(atenção...uma companhia de seguros...)