sábado, 28 de maio de 2016

A romaria do Paiva


Conseguimos novamente juntar os 4 da equipa, para uma descida de rio, facto que não acontecia há já bastante tempo. Desta vez fomos acompanhados pelas maleitas próprias da idade. A ciática do Jorge Reis, o Tennis Elbow do Pedro (o gajo só arranja lesões com nome fino), o ombro lixado do Miguel e ... o Justas não tem maleita nenhuma(????). O ancião do grupo...?... nem um entorse, nem um pulso aberto, nem uma dorzinha no artelho?.... Ah, afinal existe algo. Parece que o tipo dorme mal; acorda muitas vezes durante a noite, tal como quem o ouve dormir. Dormimos todos em Torres Novas antes do feriado de 26, para arrancarmos no dia seguinte rumo ao paiva. Falámos em dormir? O Jorge Reis conseguiu dormir depois de se fechar na despensa, semi-insonorizada por duas portas, na tentativa de fuga à propagação das ondas sísmicas do Justas (o tipo que dorme ligeiramente mal)...em vão.
Para relembrarmos  os tempos do início do Paiva, levámos o meu fabuloso Fiesta, cujas semelhanças com o fiat 127 do Jorge eram inegáveis:  Espaço exíguo, velocidade máxima entre os 80 e 90 Km/h e consumo frugal de 14 litros aos 100.  Conseguimos encaixar os 4 caiaques em cima e os 4 "camelos" em baixo. Note-se, sem qualquer tipo de sentido pejorativo; apenas uma metáfora para equiparar,  em termos de peso os 2 animais. O Justas, o antigo proprietário do 127, ainda quis denegrir o moderno fiesta, com as virtudes do seu saudoso veículo. Esqueceu-se de um promenor essencial: os 100 kg extra  que o carro tem de arrastar desde então (em contas redondas e repartidas - mais 25 kg em cada perímetro abdominal).  A coisa percebeu-se quando o Pedro e o Jorge entraram para dentro do veículo do mesmo lado. Uma clara propaganda às suspensões espartanas do fiesta. Eu sei que o carro adornou um bocado para a direita, mas aguentou a pressão. Parece que os tipos da Peugeot já se puseram em campo para utilizarem esse sistema infalível de suspensões no próximo Dakar. 
Lá fomos nós felizes para um rio, que para nós tem um significado especial. Para que a coisa fosse fidedigna, parámos na mealhada para o Jorge poder trincar a sua sandes de leitão e emborcar a imperial matinal, a um preço inflacionado ao nível do seu incremento de massa corporal.  Chegámos a Arouca e logo percebemos que se tratava de um momento especial. A banda local, sabendo da nossa presença, resolveu fazer a surpresa e brindar-nos com um recital sinfónico.  
Recebidos pela banda de Arouca
Agradecemos e lá fomos enfardar a doçaria local (a suspensão do fiesta teria de continuar a ser testada). Rumámos em direcção ao rio Paiva e íamos relembrando no caminho, as aventuras aí passadas, a descoberta do desfiladeiro há mais de 20 anos, o estado selvagem do rio, a sensação de isolamento da natureza e .... "pára aí o carro que a fila está parada!"...?... a fila???.... "Sim pá, a fila de carros e autocarros à espera de entrar no parque de estacionamento para acederem ao passadiço do paiva".  E foi assim que vimos transformado o bucólico defiladeiro do Paiva , num cenário de festival de verão. Excursões de gente, muita gente, gente aos magotes, multidão de gente... gente na fila para o café da esplanada , gente à espera da vez para os sanitários, gente à procura dos filhos, gente de mota, gente de carro, gente da autocaravanas, gente no pique-nic, gente no grelhador. Apressámo-nos a entrar para dentro dos caiaques, mesmo sem esse ritual fundamental pré-rio chamado : Defecação na paz da natureza, vulgo cagadela ao ar livre. Seria impossível passarmos despercebidos nesse ritual intimista e, lá fomos contrariados, com  os intestinos em contenção para dentro do rio.  O Justas optou por se juntar à maralha e ir conhecer o passadiço por terra. Parece que não se consegue desligar da densidade populacional do Cacém. Nós percebemos que essa opção deveria ter água no bico; alguma loira que vislumbrou lá em cima do passadiço e mandou os amigos para o rio, para não atrapalharem. Na realidade, justiça seja feita,  foi do Jorge esta ideia de se fazer um caminho ao longo do rio para as pessoas usufruirem da paisagem. Escusava era de ter sido com tanta força...e maralhal. 
A descida do rio teve os desafios habituais, o tempo habitual, a emoção habitual e uma claque pouco habitual. Cada rápido que passávamos era acompanhado por efusivos aplausos vindos do passadiço, por onde espreitavam centenas de pessoas. Ainda bem que nestas coisas não existe árbitro, senão arriscar-nos-íamos a ouvir impropérios do género: "Ó seu filho da p**** então não viste que foi o calhau que lhe fez o carrinho! vai p'ra casa ó palhaço!".  Quase no final da descida é que encontrámos o Jorge (parece que a loira era muito fugosa) , que ainda participou na nossa pausa snikkers, atestando a beleza do passadiço (a loira seria mesmo extremamente fugosa).  Chegámos à praia de Espiunca com um cenário similar à do Areiinho: Praia da Rocha em pleno Agosto. Só faltou mesmo o vendedor ambulante a gritar "Bolinha de berlim com creme! Bolacha americana!" , ou os tipos da Guiné Conacri a venderem elefantes de madeira e pulseiras de misangas.  Desafio seguinte seria despir a vestimenta molhada sem corrermos o risco escandalizar  alguma daquela centena de transeuntes (a loira fugosa não levaria a mal). 
Terminámos a descida no local obrigatório: à mesa do restaurante a trincar a vitela arouquesa. Fizemos o balanço entre a molhanga, a azeitona, a chicha e a imperial: Gostámos de reunir a equipa maravilha, de voltar ao "nosso" rio Paiva; à beleza do desfiladeiro, às emoções das águas bravas,  mas ficámos com uma sensação de invasão de privacidade pelo ajuntamento trazido no passadiço.  A região deverá agradecer em termos económicos a existência deste roteiro turístico de sucesso, mas para nós, que conhecemos e vivemos o "silêncio" do rio, ficou um certo amargo de boca e a vontade de rumarmos a outras paragens menos populosas.   

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

sexta-feira, 31 de julho de 2015

A Ilha

Discutia-se entre uma ida à costa Alentejana para gozarmos umas ondas, uma incursão de caiaque pelo Douro Internacional, quando alguém lançou a inesperada sugestão: E que tal explorarmos uma ilha deserta? A ideia foi acolhida de imediato, talvez porque no imaginário dos pais outrora adolescentes, ainda navegam os olhos verdes da Brooke Shields a dar umas cambalhotas na paradisíaca ilha da Lagoa Azul. Mas tem de ser uma ilha pertinho de casa, porque as viagens para o pacífico estão um bocadito caras. Uma ilha no Zêzere seria a solução e o Pedro tratou logo de aconselhar uma, geograficamente acessível, mas que não tinha grande ideia de como seria. Melhor, .... assim seria mesmo uma verdadeira descoberta; uma aventura inesquecível…
O plano seria pegar nos filhotes, remar até à enigmática ilha e lá permanecer 3 dias. O Jorge Justas baldou-se logo à aventura, pelo trauma de juventude que o impede de se lembrar como o tipo loiro amaricado fez a folha à imaculada Brooke , deixando-a grávida. Aliás, essa lembrança traumática poderá estar na génese de alguns traços de agressividade latente na sua personalidade.

 Para enriquecer a aventura, o Pedro lançou-se na empreitada de construir uma jangada.  Depois de uma manhã inteira de volta da coisa, saiu uma verdadeira obra de engenharia náutica, fazendo  jus aos seus pergaminhos de “Macgwiver” com escola feita entre legos, mecanos, playmobil (isso se calhar não havia na altura) e peças do automóvel do pai. Restava saber se a coisa deslizava na água ou se a água empurrava a coisa para o fundo. O engenheiro não deixou os créditos por mãos alheias e, carregando de tralha o veículo flutuante até acima, tratou de calar os mais cépticos e a coisa deslocou-se sobre a água. Arrancámos assim rumo à ilha desconhecida para a desejada aventura. Depois de algum tempo de remada…ali está a ilha!...?... Eu sei que o nosso ficcionado imaginário esperava uma coisa mais esplendorosa, com palmeiras, areia fina, uma vasta área plana para montarmos o acampamento, a Brooke deambulando com suavidade à beira da água e acenando sexy na nossa direcção. O que sobressai aos nossos olhos? Um cagalhoto em forma de pirâmide, com umas penugens de pinheiro no seu cocuruto. E se o cacalhoto era íngreme e pedregoso.  Demos a volta à ilha na esperança de encontrar um acesso que possibilitasse entrar na ilha sem recurso de material de escalada e lá encontrámos o lado norte. Tinha um acesso facilitado, uma vez que, além de ser menos íngreme tinha permanentes ventos ciclónicos  a empurrar a nossa rectaguarda rumo ao centro nevrálgico da ilha: o cocuruto com penugens.  O Pedro e o Jorge apressaram-se em montar as tendas, talvez com pressa de realizarem as múltiplas actividades que tinham pela frente. O Miguel foi o mais lento, percebendo mais tarde a pressa dos seus dois amigos. Eles tinham ocupado os 2 únicos micro-espaços horizontais para a montagem das tendas; comeram a única chicha aceitável e deixaram os ossos para o menos célere; lei da selecção natural.  Restava um local com uma inclinação suficiente para a sua noite de sono se transformar num memorial da face leste do Mont Blanc. Depois das tendas montadas, todos se apressaram em ocupar o tempo de forma lúdica. Os miúdos na banhoca tentando não sucumbir à calvície precoce resultante da intensidade do vento e os graúdos no windsurf, tentando  não sucumbir à fadiga precoce resultante da intensidade do vento. Ao fim de uma hora de vendaval a calvíce não apareceu aos cachopos, mas a fadiga dos velhos era notória.  As duas actividades mais realizadas na ilha eram essas, mais o paddle e o desafio de andar descalço sobre as pedras cortantes sem conseguir um lanho de 5cm na planta do pé.  Ao fim de 2 horas na ilha já os petizes perguntavam: E agora pai? Alguém tem cartas, cana de pesca, Ipod, Karaoke, fósforos para uma fogueirinha, ondas para o surf?... Não!?  Depressa percebemos, pela expressão dos miúdos, que a Ilha “Lagoa Azul”, se iria transformar a curto prazo na Ilha “Pântano Negro”.  O peso da insularidade pairava sobre a disposição geral, com excepção feita ao Jorge e o seu filho Gonçalo, com larga experiência em campismo de meditação, herdado dos seus antepassados Monges Shaulim,  e conseguiam manter um inabalável  contentamento por estarem ali isolados do mundo com pouco para fazer. Os prisioneiros de Alcatraz  recolheram à noite às suas celas para o doce repouso de tanta actividade diurna. Os miúdos dormiram, porque todos os miúdos dormem, o Jorge dormiu porque quem medita, dorme bem; os outros dois progenitores passaram a noite em claro com pensamentos de autoflagelação por se terem enclausurado voluntariamente naquela prisão em forma de cagalhoto.  A agravar a tudo isto, o som dos grupos musicais das festas de Vila do Rei, que ecoavam doces baladas “Quero mamar nos peitos da cabritinha” ao longo de quilómetros de água, até à ilha e penetravam nos tímpanos de quem não precisava de mais motivos para não pregar olho. Na cela nº 3, pela inclinação já referida, a gravidade conseguiu espetar os três ocupantes contra  a porta de saída. O mais novo acabou mesmo fora da tenda. O mais velho tomou a decisão mais acertada: planear a fuga da ilha. Informou os restantes companheiros: “Malta, estou aqui há dia e meio, não dormi um cagalhoto, tirei um curso intensivo de contorcionismo proporcionado pela gravidade da minha tenda, já repeti 8 vezes todas as actividades possíveis de realizar aqui, consegui não cortar os pés nestes calhaus  e estou cansado de procurar a Brooke Shields em vão. Como tal vou-me embora!” . Reacções distintas ao comunicado da fuga. O Pedro abanou positivamente a cabeça, embora lhe tivesse apetecido dar saltos de alegria por tão ajuizada decisão. Não o fez por respeito ao deprimido Jorge, mas sobretudo por estar ainda um pouco letárgico pelos poucos minutos de sono.  O Monge Jorge, tivemos de um reanimar, uma vez que sucumbiu a tão triste notícia. Ele que tinha planeado 10 dias ali, a contar as pedrinhas da ilha, a analisar as ramadas dos pinheiros, a medir a intensidade do vento, e agora isto? Ainda tentou demover o aspirante a fugitivo, com um “Epá a Brooke não está cá, mas se quiseres pinto os olhos de verde, o fato de banho efeminizado já eu tenho!”, mas embateu num muro inamovível de convicção anti-cagalhoto. Os miúdos, dividiram-se em 2 géneros distintos: os bem educadinhos que seguiram a posição dos pais (2-1 – quem te manda fazer menos filhos ó Jorge!) e a Stª Inês, com a sua compaixão pelos mais fracos, teve pena do desfalecimento do Jorge e passou para o seu lado. Por um voto conseguimos carregar a jangada rumo ao paraíso: Caminha fofa, animação, comida quente. Comemos uma febras em Vila do Rei, ouvimos um exímio cantor a 10 metros de nós sem nos romper os tímpanos,  dormimos numa bela cama numa das mansões do Sr Eduardo (agradecimento sincero) e sobretudo, ficámos com a certeza que nas próximas aventuras deixaremos a tenda em casa e apontaremos para um pedaço de terra que não seja rodeado por água por todos os lados. Até porque a Brooke  já não é o que era… 

sábado, 2 de agosto de 2014

Aventura na Serra da Estrela


 A tradição da aventura familiar começa a enraizar-se e, no caso dos mais velhos se esquecerem, os miúdos fazem questão de lembrar estes dias sagrados no calendário. Os dias do acampamento, da descoberta, do desafio, do convívio. No ano passado estivemos a navegar ao nível do mar, neste ano decidimos "navegar" ao nível da montanha mais alta do território continental. Rumámos à Serra da Estrela, em busca de percursos desafiantes para testar as pernocas mais resistentes. O Team Castro foi desta vez mais completo, com a presença de Henrique o primogénito da famelga. Montámos arraiais no Parque de campismo do Vale do Rossim (perto de Penhas Douradas)e daí partiríamos para os desafios pedestres a realizar. Escolha estratégica do local de montagem do acampamento, que viria a revelar-se sábia, fundamentalmente para todos os que ansiavam por experiências nocturnas ao nível dos decibéis dos melhores festivais de verão. Na realidade as violas e baterias seriam substituídas por sons de latidos caninos, de variada intensidade situada entre o ruído de imberbes e pequenos cachorros até ao velho e imponente cão da serra. Uma doce melodia que ecoava nos nossos tímpanos a partir da uma da matina e se prolongava por...tempo demais. Mas é tão bom acampar!...não dormiste nada na primeira noite por causa dos cães?...mas é tão bom acampar!...não dormiste nada na 2ª noite?...mas é tão bom acampar!... Com olheiras bem marcadas, atacámos o primeiro percurso entre o V. Rossim e a Torre, trajecto aconselhado pelo dono do parque cujas indicações preciosas não nos fariam ter qualquer dúvida...ou talvez sim...Chegam ao cruzamento marcado com dois paus, optam pelo caminho do monte de pedras, depois seguem o formigueiro e descobrem o outro caminho marcado com pedras...Explicação irrepreensível para qualquer índio Sioux. Penso que poderia completar com o cheiro da bosta de ovelha, a temperatura dos calhaus ou a direcção do vento...infalível. Seguimos as pistas e cedo (2 horas de caminhada depois) percebemos que o percurso seria duro e espinhoso e que as reservas de litro e meio de água, mais duas garrafas pequenas, seriam suficientes para qualquer nómada no deserto, mas claramente insuficiente para as carentes goelas da pequenada, pouco habituadas a recessão líquida. As claras indicações, rapidamente desapareceram e confiámos no instinto de orientação e memória de Jorge Reis que tinha realizado este percurso no ...século XIX. A coisa ia correndo bem, um pouco sofrível para a pequenada a partir da 3ª hora, e com a ordem de apenas molharem os lábios com o líquido, pois não sabíamos exactamente quanto tempo faltaria para a chegada à Torre(a confiança na memória do Jorge era pouca). Passámos por locais paradisíacos, lagoas inesquecíveis, vales de perder de vista e locais com história como o canto do ronco onde um tal de Conde mandou construir para bater umas sonecas (talvez porque também tinha cães a atazanarem-lhe o sossego). Chegámos à última lagoa com a Torre lá em cima à vista e aproveitámos para arrefecermos os corpos escaldados pelo sol. Sobressaiu aí a imponente figura de Tarzan Castro Taborda,  que com as carnes bem aconchegadas dentro de uma micro-tanguinha , exibiu ecléticos recursos artísticos começando por estrondosos chapachapões ,passando por arriscados mergulhos do tipo Red Bull Clif Diving, e terminando na suavidade de movimentos de natação sincronizada...
Depois do mergulho ,Jorge Reis lançou o desafio de irmos encontrar a neve que tínhamos visto lá atrás e todos acenámos afirmativamente com a cabeça dizendo: Vai Tu!!!...A Torre estava ali com o dedo indicador a chamar para encerrarmos aquele capítulo mais cedo. Jorge iria ao encontro do gelo na rocha e nós fomos à procura do gelado na arca congeladora...
Depois da caminhada passámos no Sabugueiro para um café e os miúdos apareceram a correr(ainda conseguiam...) porque tinham encontrado um campo e adversários para uma futebolada. Mais uma hora de corrida atrás da Bola nesse derbi mítico entre o Sabugueiro Futebol Clube contra o Taborda Team. Claro que os pequenos tarzans não deixaram ficar os seus créditos por pés alheios e, mesmo com 5 horas de caminhada no bucho, despacharam a concorrência...
Regresso ao parque, e petisco de feijão frade elaborado pelo Pedro que toda a malta comeu sem pestanejar, antecipando que mesmo que os cães ladrassem toda a noite, teríamos uma contraofensiva para libertar...Infelizmente, os cães ganharam novamente a ofensiva, sem conseguirmos ripostar o sistema de defesa anti-latido. Mais uma noite sofrida...
2ª caminhada entre Torre e Covão D'ametade, sempre a descer no meio de uma paisagem avassaladora. Percurso curto, mas de dificuldade maior do que o do dia anterior. Cerca de duas horas de descida, tentando mais uma vez encontrar melhores opções de trilhos, muitas vezes imperceptíveis. Pena que os diversos organismos "responsáveis" pela potenciação turística destas pérolas naturais, se descartem e deixem ao semi-abandono estes trilhos de enorme valor.  Final da caminhada no parque de merendas (ou de campismo???) do Covão D'ametade para um piquenique final. Passagem por Manteigas, já de carro (percurso do vale glaciar do zêzere), para aterrarmos no molho da barragem à porta do parque de campismo. Estava marcado um novo dérbi no Sabugueiro, mas a outra equipa perdeu por falta de comparência, e então tivemos que disputar o grande confronto Pais x Filhos, com vitória para os mais velhos no desempate das grandes penalidades. Na 3ª noite, sem recurso a combustível movido a feijão frade, estaríamos totalmente expostos ao humor dos canídeos que tínhamos por vizinhos. Mas nessa noite, após começar o recital de ladradela  o espírito de Tarzan Taborda ecoou pelos frágeis panos da tenda por volta das 2 da manhã num contundente rugido: "Fo****p'ro Ca***** dos Cães!!!". Não sei se, pela colocação de voz,  pelo próprio léxico, ou por a fama de Pedro Castro para a chapada já se ter espalhado pelos canis da Serra da Estrela, o que é certo é que as doces criaturas perderam o pio no mesmo momento, e tornaram a nossa noite, na mais pacífica calmaria. Ùltimo dia de mergulho na barragem, passagem pela Covilhão para uma macdigestão  de civilização e regresso a casa já com vontade de planear a próxima aventura...
Mensagem para o nosso amigo Jorge Justas que ,depois de ter acumulado uma série de acidentes domésticos ( entorse, queda de mota, queda a fugir do cão e queda a fugir dos fiscais camarários), viu a sua habitual participação nestas saídas inviabilizada...um abraço da malta para ele...

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Meio Século do Justas

O video dos Amigos

Jorge Justas chegou à bonita idade de 50 anos. Meio século de vida repleta de aventuras, mais de 25 anos dos quais tivemos o prazer de o fazer juntos. A equipa começou a juntar-se na faculdade ISEF e FMH, com a paixão pelo triatlo, que rapidamente desembocou noutras maluqueiras ciclísticas e fluviais.  Escolhemos essa marca histórica dos 50  para comemorar com um passeio de BTT pela serra de Sintra. Logo de manhã Justas telefona, a dizer que chove por lá e que está muito ventinho...queria trocar por um passeio pela marginal...???...será que queria também uma cadeirinha cor-de-rosa com um cestinho na frente e uma buzina a fazer plim-plim?...proposta de gaja, ou de tipo que entra no ego da terceira idade. Homem que é homem vai apanhar com chuva na moleirinha, pedras na barba dura e lama no traseiro!!!  Foi preciso chamá-lo à razão com um "Mariquinhas" para o velho se picar e ter de gramar com o nevoeiro dos capuchos. Não pedalávamos todos há muito tempo. O Jorge Reis teve dificuldade em encontrar a bicicleta, no meio da lenha e da sua conhecida arrumação de garagem. O Pedro teve de levar a micro-bicicleta da Rita, excelente bode expiatório para quando as pernas claudicassem "Não é falta de força, estou é sempre a bater com o joelho no volante! " . Seria um regresso às origens, a uma serra na qual já não pedalava há mais de 20 anos. Duas horas e meia de pedalada no bosque e descendo também à praia do Abano e Guincho para usufruirmos da loonga subida final até ao carro. 
Almoçarada em Casa do Pedro com gambas e petisco oferecido pelo aniversariante e pelos anfitriões. Despedidas feitas e o Jorge teria mais à noite uma surpresa maior com um jantar surpresa onde estiveram presentes mais de 40 convivas, atestando que o Justas, é personagem apreciado por significativa cambada. Os 3 amigos da canoagem (Pedro, Jorge e Miguel) deixam-lhe este pequeno compacto de imagens como forma de o felicitar por nos termos (mutuamente) conseguido  aturar durante mais de 25 anos. 
Abração ao Justas

E estas do inicio e fim do passeio de BTT

Mas está a encher o pneu ou a barriga???

Encontrei isto na garagem...acham que anda???

A minha é a amarelinha...

Teste ao fortalecimento postural do pequenote e do matulão...


Antes de 2h a pedalar...só sorrisos...


Depois...já não temos idade para isto!...



10 pastelinhos?...chegam...

Mas um de cada vez
E eu?..e eu?...só mordo calhaus???...
                                     

Jorge sem churrasco???...nunca!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

As 45 primaveras...com a chuva do Inverno...

45 anos no rio
Diz-se que existe uma idade a partir da qual os anos já não se devem comemorar. Pois eu ainda não cheguei a essa idade!...o facto dos meus amigos me desafiarem para passarmos o meu dia de anos, a levar com água na cachimónia  e a sentir os artelhos a tilintar de frio, é sinal de que vale a pena comemorar efusivamente o nosso quadragésimo quinto aniversário. Apesar da felicidade do momento (de meter as carnes quentinhas e encarquilhadas no frio fluvial siberiano ) os estado de espírito ainda estava ensombrado pelo  luto que continuamos a fazer depois do inesperado (...inesperado,...?,...) desaparecimento desse fabuloso e mítico automóvel que nos acompanhou durante algumas descidas, que decidiu falecer à revelia do dono . Pois é, a minha bomba não aguentou tanto tratamento de choque  e decidiu claudicar. Apesar do ...pesar...valha-me a vantagem de já não ter de ouvir referencias depreciativas ao estado de arrumação do mesmo (que estava sempre um brinco, mesmo com os pacotes de sumo espalmados debaixo do banco dos miúdos, as peúgas suadas rolando na bagageira, a casca de banana em processo de compostagem  dentro das bolsas dos bancos).
Bom, mas passemos à acção. O Jorge e o Pedro apareceram no dia anterior para irmos descer a ribeira da Sertã seguido de uma belo repasto. Seria também o baptismo de rio do Rodrigo que se juntaria a nós em Vila do Rei. Chegámos à ribeira e verificámos que o generoso caudal  poderia tornar a primeira experiência do Rodrigo como algo  desagradável, uma vez que o leito estava com uma corrente contínua o que, apesar do desnível do rio não ser demasiado exigente, tornaria as paragens difíceis para que não rema habitualmente. O Jorge como mais velho e sábio do grupo alertou-nos para esse facto, eu concordei e o Pedro, pai do Rodrigo também, facto totalmente perceptível pela preocupação com o bem estar o seu rebento, exteriorizando  com um: "Rodrigo, tu é que decides, mas eu penso que já que estás aqui, veste a porra do fato e trata de remar!!!...." Está claro que o Rodrigo ouviu os mais sábios e decidiu acompanhar por terra a descida. E ainda bem. Teria virado umas quantas vezes e  sentido o fresquinho na moleirinha juntamente com uma enorme vontade de voltar a remar...


Descemos os 3 a ribeira de forma rápida, com uma paragem no meio para a mijoca e a terapia de grupo. Depois do almoço em V. do Rei , antes de voltarmos  para minha casa  fomos ver caiaques em 2º mão para o Jorge escolher. Fiel à sua reconhecida capacidade de decisão, deu 5 passagens pelos 20 caiaques que estavam para venda, com correspondente alombanço, para conseguir levar...1. Depois desta meticulosa escolha fomos   recebidos pelos meus filhotes sentados nos pilares do muro equipados a rigor(capacetes e remos nas mãos) e algo solidificados pelo frio e fatigados pelas 372 vezes(nº de carros que passaram) que subiram aos pilares naquela hora entre o meu telefonema e a minha chegada.

Recebidos por dois remadores estátuas
Jantámos uma merecida feijoada em minha casa e brindámos ao desejo de, nos próximos anos, conseguirmos colocar as proeminentes carnes dentro do estreito cockpit dos caiaques e usufruirmos de mais dias destes entre os amigos e família. Fica no ar a interrogação da qualidade do ar respirado pelo Pedro e pelo Jorge no seu regresso a casa...a feijoada era boa, sim senhor...
Um brinde à amizade e a mais feijoadas destas

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Ainda existem praias destas...


Marcámos a nossa aventura bi(g)geração familiar  , para a costa marítima nos arredores de Sesimbra. Programa de 2 dias rico e diversificado com muita remada, banhoca, mergulho e uma série de formações  intensivas em áreas tão abrangentes como: biologia marinha, pescas, agricultura,  geologia e quedas de calhaus, política de proximidade, gastronomia , apneia do sono e sem sono.  Desta vez a equipa apresentou-se quase completa: quarteto dos cotas (Jorge Reis, Justas, Pedro e Miguel) e respectivos filhos, com excepção para o filho/pai Henrique e da Rita filha. As esposas, essas, ficaram em casa comemorando a saída da prole e o consequente descanso. Arranque cedinho no porto de Sesimbra, com a faraónica tarefa de conseguir encaixar toda a tralha em cima de caiaques sem os transformar em submergíveis.  
De notar que o volume de material a levar dos 3 maiores caiaques era substancialmente superior ao daquele caiaque esquisito com tampas semi-estanques. O material a levar pelo tipo do caiaque pequenote ficou resumida numa frase emitida por um dos petizes: “Já viste que o Justas só leva Bejecas e batatas fritas!?”.

Seguimos viagem em mar aberto em direcção ao cabo carvoeiro. Cedo percebemos que as palavras iniciais do capitão do team Castro  seriam o mote de passeio descontraído pela consta vicentina…”vamos na calma a apreciar a paisagem”. Partida feita e embarcação Castro esfumou-se no horizonte, progredindo ao ritmo de um motor a 4 tempos (2 vigorosos braços, uma voz de comando forte “Faz força nessa pagaia Rodrigo!” e um escape de retaguarda de fazer inveja a um Honda tunning). As 3 tartarugas que ficaram para trás, foram tirando umas fotos e apreciando a viagem, sempre com a sensação que a embarcação líder, ao fim de uma hora, já tinha dobrado o cabo Espichel, preparando-se para avistar a ilha do Pico. 


Afinal encontrámos essa embarcação atracada na praia do cavalo; parece que os motores potentes precisam de mais refrigeração. Mergulho nessa fabulosa praia e seguir viagem em busca de uma praia deserta para montar acampamento.  Ao fim de 6 quilómetros de remada lá encontrámos o paraíso…a praia …(deixa ver, descobri agora o nome no Google),..é isso, praia do Inferno… (?). Foi tudo menos infernal…diremos que foi, pelo contrário,… divinal. Água cristalina, rochas para ver cardumes de peixes com fartura e um local privilegiado para montar acampamento. 
A única recomendação feita pelas mães antes da saída foi: “Não montem as tendas debaixo da arriba!”. Ainda bem que conseguimos. Aquela parede rochosa de 100 metros  que se erguia sobre a praia, na base da qual montámos as tendas não era bem uma arriba,…seria mais uma espécie de penhasco…zito. Mas a escolha não foi ao acaso.
O Pedro explanou os seus fartos conhecimentos em geologia e física aeroespacial  garantindo que, na eventualidade  de um calhau se soltar da parede, depois de sofrer uma aceleração, embateria contra a placa geológica inferior e aterraria longe das tendas.
A noite terminou com todas as tendas junto da água, depois de múltiplos calhaus não terem obedecido à teoria   do sábio geólogo, e choverem abundantemente em cima dos panos. O único que não se sentiu incomodado por aquela chuva de calhau, foi Justas Crosué,  tapado por um simples oleado. Parece que em termos aeroespaciais, os calhaus não conseguiram penetrar na sua atmosfera ressonante.
Depois de uma rápida prospecção subaquática verificámos que estávamos numa reserva de todo o tipo de peixaria.
Olhámos para o Jorge Reis e perguntámos onde estava a arma de caça submarina para nos garantir o jantar, ao que ele acenou negativamente. Na memória colectiva ainda paira uma longínqua viagem de BTT ao Algarve com arma disponível mas sem resultados materiais. Depois de alguns comentários depreciativos, Jorge, no sentido de preservar a sua dignidade, entrou no oceano apenas com a máscara e o tubo, mergulhou e surgiu segundos depois com um polvo agarrado ao pulso.  É d’homem! Polvo apanhado, surgia o conflito entre  colocá-lo em cima do caiaque para os miúdos aprenderem um pouco de biologia ou  colocá-lo em cima da grelha para os miúdos aprenderem truques de culinária. E porque não um 2 em 1?  Ou utilizá-lo para adivinhar os resultados do Sporting no campeonato? …nããã é melhor não sofrer por antecipação. Os cachopos ficaram tão embevecidos com a doce criatura a mexer os tentáculos que tivemos de o devolver ao seu habitat.
A praia deserta seria o local ideal para ser lançada a campanha : “Vote for Pedro” . Um movimento de cidadania que visa ser a pedra no charco do panorama político português, começando logo pelo slogan que alia portugalidade a universalidade. Para começar nada melhor do que oferecer umas bifanas aos eleitores, mas de forma totalmente desinteressada. Os  quilos de bifanas encomendados, que chegariam para alimentar  a população da margem sul, deixou o vasto eleitorado a arrotar durante toda a noite. “Vote for Pedro …e trincará bifanas deste calibre!”. A  sua estratégia foi de tal maneira bem elaborada, que o seu mandatário de campanha, especialista em hortas urbanas, colheu do fundo do areal umas latas de cerveja nacional que descobriu  na sombra do calhau leste. “Vote for Pedro e conseguirá colher na sua horta estas bejecas fresquinhas!”.   Durante o jantar, quando estavam a ser lançadas as promessas eleitorais “duas rotundas e um viaduto bem no meio do oceano”, toca o telefone e o Rodrigo , depois de atender responde efusivo: “Passei a Matemática por duas décimas!” . Ficámos felizes por ver o Rodrigão vencer esse bicho papão. Pedro aproveita a deixa “Vote for Pedro…e terá milagres na sua vida!”. Campanha infalível, político de futuro.
Tempo para observar também a capacidade isotérmica da epiderme do Jorge Justino. Mergulhou sem fato artificial e , com o entusiasmo do universo marinho, nadou durante 1 hora sem qualquer sinal de hipotermia. Já o Jorge mais magrinho, percebeu que aumentar o mergulho sem fato acima da meia hora, representa tirintar de mandíbula durante outra meia hora…come mais rapaz e chegarás ao nível do Justas.
Para além destas peripécias, a imagem que fica estampada na memória, será a daquela fabulosa praia, onde os amigos e os filhos partilharam a paixão pela natureza e pela aventura … sem computadores, internet, jornais, televisão. Os miúdos perguntam-me aqui em casa: quando é a próxima pai?...e eu respondo: quando nós quisermos!...

segunda-feira, 25 de março de 2013

O Regresso ao líquido



Já não metíamos as carnes de molho há quase 2 anos. Várias condicionantes levaram a este flagelo prolongado de secura, mas decidimos parar com o jejum e tirar o bolor dos caiaques. Tínhamos decidido que esperaríamos por condições adequadas às capacidades de cotas enferrujados. Queríamos um caudal não demasiado agressivo e um sol que levasse a pluviosidade para longe da nossa moleirinha; conseguimos ir em 2 dias de chuva torrencial para rios em pré-cheia…boa opção. Desta vez apenas se voluntariaram os 2 do costume , mas com um reforço logístico de peso, que nos poupou das extenuantes corridas finais de recuperação do veículo. Para além disso, o Sérgio disponibilizava-se para oferecer de forma totalmente gratuita, as suas vastas competências no domínio da fotografia no acompanhamento da descida, ele que foi um dos injustiçados por ver o seu nome fora dos prémios “National Geographic 2010”. Finalmente iríamos ter um registo de gabarito, adequado ao nível técnico dos praticantes. O Pedro já não tinha de levar a sua máquina, nem se queixar que ficava mal na fotografia, pois estava escudado por meios técnicos de relevo : fotógrafo experiente e máquina de alta definição…comprada há alguns anos atrás (surgem relatos de um aparelho similar junto do sarcófago do faraó egípcio Tutankhamon).


Optámos por voltar ao Covo, o nosso rio de eleição. Choveu torrencialmente durante a noite, juntando a toda a água acumulada no último mês. A Manhã a chover retraía a vontade de regressar ao rio. Depois do farto p/almoço em C. Daire , rumámos ao rio debaixo de chuva…granda galo!...não me apetecia chuva na chanfradura e ela aí estava. No momento em que nos equipávamos o sol rompeu por entre as nuvens e respeitou o nosso desejo de regresso iluminado; um sinal divino. Deparei-me com graves falhas na qualidade do meu equipamento, que mingou de forma significativa desde a última descida. Rio Covo em grande, com um caudal mais do que generoso seria um banquete adequado.

A equipa
O Fotógrafo colocou-se a postos e, qual malabarista de circo, manuseou 2 máquinas em simultâneo, disparando fotografia com uma mão, vídeo com a outra e equilibrando duas ameixas em cima da cabeça. Apenas ao alcance de poucos…A primeira fotografia registada, representou um hino à arte do ofício: a luminosidade, o contraste, o enquadramento, os objectos aparecendo de forma subtil, quase imperceptível. A imagem, da corrente da água, cortada pelo ténue sinal de um capacete avermelhado e um objecto alaranjado, revela toda a sua criação artística. Se a qualquer olhar menos sensível e abrutalhado, aquela imagem do capacete poderia dar azo a um reparo do género :“Que  merda é esta?” , para os entendidos trata-se de uma obra artística de elevado potencial digna de ingressar numa das salas do museu Berardo . 
A água, o vestígio do vermelho, o surgimento ténue do laranja...
Esta ficou um pouco terra a terra...do ponto de vista artístico
Voltámos à arte: os ramos,...a imagem desfocada do elemento,....
E o que dizer da filmagem de vídeo? Divinal. A definição da câmara transcende qualquer película de 8mm, as panorâmicas feitas com mestria e todo o movimento captado sem mácula, imagens que preferimos deixar fora deste blogue, que não merece tamanha pérola cinéfila. Quanto à descida propriamente dita, foi feita com poucas paragens e animação constante. Apenas referir o episódio do rápido da passagem final retentiva, que tínhamos decidido abordar com cautela. O Pedro, sem dar por ele, entrou na sequência qual Cristiano Ronaldo na área do Barcelona e, quando percebeu em que cenário estava, agarrou-se seguro a um tronco na margem, interiorizando um sorriso “eh,eh, querias-me apanhar aí oh buraquinho?!...”. Foi quando ouviu um Cracccc e verificou a resistência do tronco… partido na sua mão. Vai daí, para o retorno final não se ficar a rir, entrou de retaguarda , para que, no caso da coisa dar para o torto, ao menos soltaria em forma de vingança uma das suas atoardas flatulentas. Eu fui de seguida, também sem noção da coisa, mas não dei a retaguarda ao bicho, que nessas coisas sou muito cauteloso e esquisito. Descemos o Covo de forma limpa em menos de uma hora e meia e apenas apanhámos chuva (em forma de pedra) já no final.
O Sérgio estava à nossa espera com 2 simpáticos cães. Entre duas lambidelas o cão mais novo sussurrava-me ao ouvido em forma de latido: “Sabes, eu tive agora um curso intensivo de fotografia com este senhor de chapéu esquisito e até fiquei a saber que não podemos cortar elementos, tais como, cabeça, tronco e membros da fotografia…”

Rumámos ao Paiva para atacarmos no dia seguinte o desfiladeiro. Espreitámos o rio de cima e achámos que a coisa levava água a mais para as nossas unhas nos 2 principais rápidos (sem calhau à vista) e optámos por descer a micro-etapa do Vau a Espiunca, no dia seguinte. Na hora de jantar, levámos o Sérgio aos bifes da vaca Arouquesa, que o Pedro lhe tinha vendido como uma posta de vaca mirandesa, naquela fase em que deitava a mão a todos os métodos de aliciamento em busca de apoio (melhor do que ele só Paulo Portas a beijar os buços das varinas). Publicidade enganosa, dizia o Sérgio, olhando para o suculento bife com um desdém similar ao que olhará Kimi Raikonnen para um Fiat 600. Entre queixas da textura da comida, lá papou todo o bife ao som da inspiradora prosa da dona do restaurante que achou muita piada aos seus pixéis. Nem mesmo no momento do relato do familiar que morreu a esguichar sangue pela boca, Sérgio se deixou impressionar e lá continuou a trincar o sangue do bife da tal vaca que não era mirandesa.
Curso de engenharia civil em 5 lições....

Noite de acampamento junto ao rio, numa daquelas tendas que se montam em segundos e se arrumam em largos minutos, mas que são totalmente impermeáveis a enxurradas de água,…cof,cof,…. Pequeno almoço no senhor da padaria de Canelas, onde relembrámos histórias com mais de 20 anos e descida do troço de rio que tínhamos decidido no dia anterior. Troço supersónico feito voando sobre as enormes ondas que se desenharam no rio nesse dia. Foi um óptimo regresso às lides, reforçado com a mais valia da presença do Sérgio e da sua máquina fotográfica, com a garantia de que o brindaremos, numa próxima descida, com uma bela posta de vaca Goesa. Em baixo, as poucas imagens registadas pela fabulosa máquina do artista. A nós resta-nos o justo apelo à revista National Geografic : “Para quando esse prémio , seus artolas?”

terça-feira, 17 de maio de 2011

Águeda Paraíso


Conseguimos uma aberta, ou antes, conseguimos a árdua tarefa de encontrar uma aberta no hiper-preenchido calendário do Jorge Justas e lá fomos, depois de meio ano sem remar, em busca da aventura. Apontámos ao Águeda Internacional, para nos baldarmos às portagens, mas não acalentando à partida, grandes esperanças de um caudal aceitável para descer. Já tínhamos definido uma volta a Portugal, até ao Castro Laboreiro, no caso do líquido no Águeda nos defraudar.
Saímos de Torres Novas com calor de verão, chegámos a Almeida debaixo de uma intempérie invernosa com relâmpagos e tudo. Desta vez o Cruise control do Pedro ficou em Lisboa, e voltámos ao pedal control da bomba Ford. No caminho, a potência da bomba foi sendo posta em causa pelos experts da mecânica automóvel, afiançando que a 3ª se ia abaixo, que o motor carecia de compressão, que os pistons não deslizavam, tudo pintelhices (parafraseando um tal economista aspirante a ministro) que se esfumavam na velocidade de ponta do veículo sobretudo nas…descidas…Ainda se fizeram associações brejeiras de uma pseudo-relação entre a falta de potência do carro e a prestação em domínios obscuros do seu dono, …mas o dono passou ao lado.
Chegados a Almofala , na conversa com transeuntes, descobrimos que, para aqueles lados, chovia há 3 dias seguidos, factor a favor do líquido no rio. Espreitámos o rio lá de cima,…bem lá de cima,…porque o rio fica lá em baixo,…bem lá em baixo. Um desfiladeiro majestoso que augurava uma aventura à moda antiga e que parecia ter alguma “áuguita”(ao contrário da 1ª tentativa seca feita há um ano atrás). Decidimos que a 1ª etapa terminaria algures ali em baixo, num caminho que sairia algures perto do rio. Seria fácil identificar a saída vindos do rio?...mas é claro que sim!...afiançava um pastor…Tentámos arranjar boleia para colocar o carro na chegada, sem sucesso. O nosso aspecto seria confundido com um qualquer presidente do FMI a sair da casa de banho, e toda a malta que abordámos em busca de boleia, se fechou em copas, obrigando-nos a ir para o rio sem carro no final…

 O rio não nos defraudou. Rápidos amigáveis, alguns sifões pelo meio e duas paredes enormes de cada lado, mantinham-nos enclausurados naquele espectáculo de beleza natural. A ideia de que, se algum azar acontecesse não haveria grandes hipóteses de sair dali, era reforçada com o permanente olhar aéreo dos enormes abutres, em busca de um belo jantar. Águias reais que pegavam em borregos pequenos como de coelhos se tratassem, também nos lançavam o seu ávido olhar … A temperatura do ar e da água ao nível das tépidas ilhas bora-bora. Remámos e reconhecemos, durante 6 horas. O tal do caminho de saída tardava em aparecer, ao que o Pedro lançou um : É Aqui!...Olhei para a margem e só via matagal subindo por uma encosta muito íngreme(?). Incrédulo, lancei…Aqui aonde??? Qual perdigueiro treinado, Pedro vasculhou os vestígios de provas e viu beatas no chão. Pensei tê-lo ouvido dizer ao jeito do grande chefe humpá-pá: "rosto pálido passou aqui à 38 horas e 43 minutos".... Decidimos deixar os caiaques e todo o material junto ao rio e embrenhámo-nos no matagal , sem grandes certezas no instinto pisteiro do nosso guia. É aqui o caminho! A alegria por termos encontrado o trilho, foi-se desvanecendo à medida que percorríamos aquele calvário de meia hora sempre a subir. No total deu quase 2 horas de caminhada até ao carro.

 Esse factor deu origem a que me rendesse e trocasse a primeira noite que dormi dentro do veículo sem potência, por uma 2ª noite na fofa caminha da pousada da juventude…num quarto bem longe do das duas betoneiras, que tentavam discutir entre si o título do motor acústico com maior compressão. Não sei qual dos 2 saiu vencedor, mas eu dormi que nem um anjinho.
No 2º dia, com medo de termos de penar com uma caminhada muito maior do que a do dia anterior, a envergadura do Pedro entrou sem hesitações dentro de uma oficina em Mata de Lobos atacando: “Aquela carrinha 4x4 é de algum dos senhores?” Lá do fundo respondeu um senhor a medo… “é minha!”…o instinto mortífero do matulão tratou de voluntariar à força aquele desprotegido senhor, estendendo-lhe logo uma nota na mão e apresentando a sua ajuda como um facto consumado. O senhor lá nos foi levar ao rio, de início um pouco contrariado, mas depois, quando viu que estava perante malta séria, daquela que não diz uma asneira, não lança um ressonar, não diz mal do governo, não liberta uma bufa malcheirosa,…descontraiu-se e até desceu connosco ao rio.
Mais uma etapa fabulosa, desta vez com os músculos doridos do dia anterior e da falta de treino.
No final estávamos contentes por todo aquele envolvimento e por termos o carro já ali em cima…?...sim ali em cima…era só levar os caiaques e os fatos molhados ali, até onde tinha ficado o carro. No desfiladeiro do Águeda, o “Já ali em cima” significa “Mas nunca mais chegamos à porra do veículo …sem potência…”
A dureza da subida, fez saber melhor a frescura da bebida na companhia do senhor que nos salvou e nos ajudou a colocar o carro …já ali em cima...


Um fim de semana inesquecível, num rio inesquecível. A vida tem destes presentes reservados a quem se atreve a procurar...

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Covo em Cruise Control...



Tinha várias opções para comemorar os meus 42 anos. Entre a estadia num hotel de 6 estrelas no Dubai, uma sessão intensiva de massagens com 5 tailandesas, uma viagem a Nova Iorque, decidi por uma descida de rio com dois amigalhaços…?...um gajo com a idade perde faculdades ao nível do discernimento… 4+2=6?...42?...24?...

Combinámos em cima da hora, uma incursão compatível com as debilidades físicas de quem já não remava há uns meses. O Covo tinha os ingredientes que necessitávamos: diversão, pouca distância e reduzido stress… só faltaria o tempo para ajudar, mas os tipos da meteorologia não tinham compaixão pelo aniversariante e vaticinavam chuva com fartura e ventos fortes. Mas que se lixe! Até porque teremos a oportunidade de conhecer as enormes potencialidades do novo veículo do Pedro. E não fomos defraudados. A viagem foi uma descoberta constante das múltiplas e intrincadas funções do carro arraçado de Concorde. Tudo naquele robot de rodas funciona de forma automática, aspecto que, garantia o Pedro, não lhe dizia grande coisa. “Vocês sabem que eu não ligo nenhuma a estas mariquices,…mas já viram aqui este comando automático dos retrovisores?...” . Mas dentro todas as funções inovadoras do veículo, aquilo que mais sucesso fez, foi o tal do “Cruise Control”, que consistia em manter o carro em velocidade constante, sem se ter o fatigante trabalho de pressionar o acelerador com o pé. A outra vantagem é nunca se passar do limite sobre o qual a brigada de trânsito esfrega as mãos de contente. A substituição do nome “controlo da velocidade” por “cruise control” tem duas funções: a função de internacionalizar para impressionar, na mesma linha do “tration control” (controlo de tracção), do “ligth control” (controlo da iluminação), do “seat belt control” (controlo dos cintos), “Fart control” (controlo do cheiro das bufas malcheirosas com abertura automática dos vidros).

Vejam! com Cruise Control e sem... Hands Control

Todos os nomes poderiam ser muito bem ditos em português, mas não tinha o mesmo estilo. A outra razão para a utilização deste estrangeirismo está no próprio “Cruise”, o sobrenome do tal actor que andou a brincar ao quarto escuro com a Nicole Kidman e a Penelope Cruz. É que o indivíduo foi protagonista do filme “Missão impossível”, o mesmo tipo de missão, que representava aguentar o pé de chumbo do Pedro inibido pela limitação do “Cruise control”. O acelerador era para ser pressionado em todo o seu esplendor e as multas…que se lixem… Que saudades do Fiat Panda dos anos 90, que nem tinha “heavy control” quando lhe púnhamos 5 latagões dentro e 5 caiaques em cima, nunca se queixava do peso e das irregularidades dos trilhos de montanha.
Concorde terrestre com "Kayak control"

Chegámos ao rio sem muita chuva, sem muito vento, sem muito frio e com alguma água. Desta vez eu iria estrear o meu presente de anos, umas calças “secas” encomendadas em tamanho L e recebidas em tamanho M, não por manifesta incompetência do vendedor, mas porque a viagem pelo correio tinha a função de “Size Control” e tratou de as mingar, achando que as minhas adiposidades não eram assim tão consideráveis.
Antes de entrar no rio, percebi logo que as minhas chanatas compradas no Lidl não tinham grande "tration control" e espetei com a bunda no chão e um silvado na mão esquerda.



Estou com dificuldade para entrar neste Size Control















Desta vez a descida não teve grandes oportunidades de recolha de imagens, perdão, “Image control”, isto porque o rio foi descido sem grandes paragens ou reconhecimentos, atestando o “self control” dos protagonistas. De destacar apenas a respiração ofegante do aniversariante após as primeiras remadelas, não por ter feito 42 anos, mas por alguma falta de treino específico da coisa. Com alguma inveja do “Cruise Control” da carripana do Pedro, eu e o Jorge não nos quisemos ficar atrás e testámos também o “Cruise Control” da nossa embarcação , mas coisa descambou em duas valentes caroladas no sólido calcário das pedras do rio. Tínhamos acabado de criar o “Head Control”, pela descoberta de que, tal como nunca se deve entregar o cartão de crédito à mulher dentro de um shopping, nunca se deve entregar o controlo da condução ao inerte caiaque…

Depois de concretizada a fabulosa descida seria a altura para a oferenda de prendas ao tipo que fazia anos. Os amigalhaços lembraram-se oferecer ao aniversariante aquela atractiva corrida em subida até ao carro. Fiquei feliz por se terem lembrado de prenda tão consoladora. Na altura de trincar o bife da vaca arouquesa, a senhora do restaurante tratou de oferecer ao aniversariante o bife bem passado com metade do tamanho do bife dos amigalhaços… Percebi que aquilo só poderia ser "Beef control" da cozinheira, para que as minhas carnes entrassem nas calças secas "size control" . O aniversariante agradece a generosidade…





O Meu...é o mini...

Valeu o desenho artístico da minha filha no final do dia e a história do “Duende que salvou o dia” desenhada pelo meu filhote. O meu dia de anos foi criado pelo Duende que sabia os ingredientes necessários para me salvar o dia: Começa no Rio com os amigos, termina em casa com a família…