quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Ainda existem praias destas...


Marcámos a nossa aventura bi(g)geração familiar  , para a costa marítima nos arredores de Sesimbra. Programa de 2 dias rico e diversificado com muita remada, banhoca, mergulho e uma série de formações  intensivas em áreas tão abrangentes como: biologia marinha, pescas, agricultura,  geologia e quedas de calhaus, política de proximidade, gastronomia , apneia do sono e sem sono.  Desta vez a equipa apresentou-se quase completa: quarteto dos cotas (Jorge Reis, Justas, Pedro e Miguel) e respectivos filhos, com excepção para o filho/pai Henrique e da Rita filha. As esposas, essas, ficaram em casa comemorando a saída da prole e o consequente descanso. Arranque cedinho no porto de Sesimbra, com a faraónica tarefa de conseguir encaixar toda a tralha em cima de caiaques sem os transformar em submergíveis.  
De notar que o volume de material a levar dos 3 maiores caiaques era substancialmente superior ao daquele caiaque esquisito com tampas semi-estanques. O material a levar pelo tipo do caiaque pequenote ficou resumida numa frase emitida por um dos petizes: “Já viste que o Justas só leva Bejecas e batatas fritas!?”.

Seguimos viagem em mar aberto em direcção ao cabo carvoeiro. Cedo percebemos que as palavras iniciais do capitão do team Castro  seriam o mote de passeio descontraído pela consta vicentina…”vamos na calma a apreciar a paisagem”. Partida feita e embarcação Castro esfumou-se no horizonte, progredindo ao ritmo de um motor a 4 tempos (2 vigorosos braços, uma voz de comando forte “Faz força nessa pagaia Rodrigo!” e um escape de retaguarda de fazer inveja a um Honda tunning). As 3 tartarugas que ficaram para trás, foram tirando umas fotos e apreciando a viagem, sempre com a sensação que a embarcação líder, ao fim de uma hora, já tinha dobrado o cabo Espichel, preparando-se para avistar a ilha do Pico. 


Afinal encontrámos essa embarcação atracada na praia do cavalo; parece que os motores potentes precisam de mais refrigeração. Mergulho nessa fabulosa praia e seguir viagem em busca de uma praia deserta para montar acampamento.  Ao fim de 6 quilómetros de remada lá encontrámos o paraíso…a praia …(deixa ver, descobri agora o nome no Google),..é isso, praia do Inferno… (?). Foi tudo menos infernal…diremos que foi, pelo contrário,… divinal. Água cristalina, rochas para ver cardumes de peixes com fartura e um local privilegiado para montar acampamento. 
A única recomendação feita pelas mães antes da saída foi: “Não montem as tendas debaixo da arriba!”. Ainda bem que conseguimos. Aquela parede rochosa de 100 metros  que se erguia sobre a praia, na base da qual montámos as tendas não era bem uma arriba,…seria mais uma espécie de penhasco…zito. Mas a escolha não foi ao acaso.
O Pedro explanou os seus fartos conhecimentos em geologia e física aeroespacial  garantindo que, na eventualidade  de um calhau se soltar da parede, depois de sofrer uma aceleração, embateria contra a placa geológica inferior e aterraria longe das tendas.
A noite terminou com todas as tendas junto da água, depois de múltiplos calhaus não terem obedecido à teoria   do sábio geólogo, e choverem abundantemente em cima dos panos. O único que não se sentiu incomodado por aquela chuva de calhau, foi Justas Crosué,  tapado por um simples oleado. Parece que em termos aeroespaciais, os calhaus não conseguiram penetrar na sua atmosfera ressonante.
Depois de uma rápida prospecção subaquática verificámos que estávamos numa reserva de todo o tipo de peixaria.
Olhámos para o Jorge Reis e perguntámos onde estava a arma de caça submarina para nos garantir o jantar, ao que ele acenou negativamente. Na memória colectiva ainda paira uma longínqua viagem de BTT ao Algarve com arma disponível mas sem resultados materiais. Depois de alguns comentários depreciativos, Jorge, no sentido de preservar a sua dignidade, entrou no oceano apenas com a máscara e o tubo, mergulhou e surgiu segundos depois com um polvo agarrado ao pulso.  É d’homem! Polvo apanhado, surgia o conflito entre  colocá-lo em cima do caiaque para os miúdos aprenderem um pouco de biologia ou  colocá-lo em cima da grelha para os miúdos aprenderem truques de culinária. E porque não um 2 em 1?  Ou utilizá-lo para adivinhar os resultados do Sporting no campeonato? …nããã é melhor não sofrer por antecipação. Os cachopos ficaram tão embevecidos com a doce criatura a mexer os tentáculos que tivemos de o devolver ao seu habitat.
A praia deserta seria o local ideal para ser lançada a campanha : “Vote for Pedro” . Um movimento de cidadania que visa ser a pedra no charco do panorama político português, começando logo pelo slogan que alia portugalidade a universalidade. Para começar nada melhor do que oferecer umas bifanas aos eleitores, mas de forma totalmente desinteressada. Os  quilos de bifanas encomendados, que chegariam para alimentar  a população da margem sul, deixou o vasto eleitorado a arrotar durante toda a noite. “Vote for Pedro …e trincará bifanas deste calibre!”. A  sua estratégia foi de tal maneira bem elaborada, que o seu mandatário de campanha, especialista em hortas urbanas, colheu do fundo do areal umas latas de cerveja nacional que descobriu  na sombra do calhau leste. “Vote for Pedro e conseguirá colher na sua horta estas bejecas fresquinhas!”.   Durante o jantar, quando estavam a ser lançadas as promessas eleitorais “duas rotundas e um viaduto bem no meio do oceano”, toca o telefone e o Rodrigo , depois de atender responde efusivo: “Passei a Matemática por duas décimas!” . Ficámos felizes por ver o Rodrigão vencer esse bicho papão. Pedro aproveita a deixa “Vote for Pedro…e terá milagres na sua vida!”. Campanha infalível, político de futuro.
Tempo para observar também a capacidade isotérmica da epiderme do Jorge Justino. Mergulhou sem fato artificial e , com o entusiasmo do universo marinho, nadou durante 1 hora sem qualquer sinal de hipotermia. Já o Jorge mais magrinho, percebeu que aumentar o mergulho sem fato acima da meia hora, representa tirintar de mandíbula durante outra meia hora…come mais rapaz e chegarás ao nível do Justas.
Para além destas peripécias, a imagem que fica estampada na memória, será a daquela fabulosa praia, onde os amigos e os filhos partilharam a paixão pela natureza e pela aventura … sem computadores, internet, jornais, televisão. Os miúdos perguntam-me aqui em casa: quando é a próxima pai?...e eu respondo: quando nós quisermos!...

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