terça-feira, 17 de maio de 2011

Águeda Paraíso


Conseguimos uma aberta, ou antes, conseguimos a árdua tarefa de encontrar uma aberta no hiper-preenchido calendário do Jorge Justas e lá fomos, depois de meio ano sem remar, em busca da aventura. Apontámos ao Águeda Internacional, para nos baldarmos às portagens, mas não acalentando à partida, grandes esperanças de um caudal aceitável para descer. Já tínhamos definido uma volta a Portugal, até ao Castro Laboreiro, no caso do líquido no Águeda nos defraudar.
Saímos de Torres Novas com calor de verão, chegámos a Almeida debaixo de uma intempérie invernosa com relâmpagos e tudo. Desta vez o Cruise control do Pedro ficou em Lisboa, e voltámos ao pedal control da bomba Ford. No caminho, a potência da bomba foi sendo posta em causa pelos experts da mecânica automóvel, afiançando que a 3ª se ia abaixo, que o motor carecia de compressão, que os pistons não deslizavam, tudo pintelhices (parafraseando um tal economista aspirante a ministro) que se esfumavam na velocidade de ponta do veículo sobretudo nas…descidas…Ainda se fizeram associações brejeiras de uma pseudo-relação entre a falta de potência do carro e a prestação em domínios obscuros do seu dono, …mas o dono passou ao lado.
Chegados a Almofala , na conversa com transeuntes, descobrimos que, para aqueles lados, chovia há 3 dias seguidos, factor a favor do líquido no rio. Espreitámos o rio lá de cima,…bem lá de cima,…porque o rio fica lá em baixo,…bem lá em baixo. Um desfiladeiro majestoso que augurava uma aventura à moda antiga e que parecia ter alguma “áuguita”(ao contrário da 1ª tentativa seca feita há um ano atrás). Decidimos que a 1ª etapa terminaria algures ali em baixo, num caminho que sairia algures perto do rio. Seria fácil identificar a saída vindos do rio?...mas é claro que sim!...afiançava um pastor…Tentámos arranjar boleia para colocar o carro na chegada, sem sucesso. O nosso aspecto seria confundido com um qualquer presidente do FMI a sair da casa de banho, e toda a malta que abordámos em busca de boleia, se fechou em copas, obrigando-nos a ir para o rio sem carro no final…

 O rio não nos defraudou. Rápidos amigáveis, alguns sifões pelo meio e duas paredes enormes de cada lado, mantinham-nos enclausurados naquele espectáculo de beleza natural. A ideia de que, se algum azar acontecesse não haveria grandes hipóteses de sair dali, era reforçada com o permanente olhar aéreo dos enormes abutres, em busca de um belo jantar. Águias reais que pegavam em borregos pequenos como de coelhos se tratassem, também nos lançavam o seu ávido olhar … A temperatura do ar e da água ao nível das tépidas ilhas bora-bora. Remámos e reconhecemos, durante 6 horas. O tal do caminho de saída tardava em aparecer, ao que o Pedro lançou um : É Aqui!...Olhei para a margem e só via matagal subindo por uma encosta muito íngreme(?). Incrédulo, lancei…Aqui aonde??? Qual perdigueiro treinado, Pedro vasculhou os vestígios de provas e viu beatas no chão. Pensei tê-lo ouvido dizer ao jeito do grande chefe humpá-pá: "rosto pálido passou aqui à 38 horas e 43 minutos".... Decidimos deixar os caiaques e todo o material junto ao rio e embrenhámo-nos no matagal , sem grandes certezas no instinto pisteiro do nosso guia. É aqui o caminho! A alegria por termos encontrado o trilho, foi-se desvanecendo à medida que percorríamos aquele calvário de meia hora sempre a subir. No total deu quase 2 horas de caminhada até ao carro.

 Esse factor deu origem a que me rendesse e trocasse a primeira noite que dormi dentro do veículo sem potência, por uma 2ª noite na fofa caminha da pousada da juventude…num quarto bem longe do das duas betoneiras, que tentavam discutir entre si o título do motor acústico com maior compressão. Não sei qual dos 2 saiu vencedor, mas eu dormi que nem um anjinho.
No 2º dia, com medo de termos de penar com uma caminhada muito maior do que a do dia anterior, a envergadura do Pedro entrou sem hesitações dentro de uma oficina em Mata de Lobos atacando: “Aquela carrinha 4x4 é de algum dos senhores?” Lá do fundo respondeu um senhor a medo… “é minha!”…o instinto mortífero do matulão tratou de voluntariar à força aquele desprotegido senhor, estendendo-lhe logo uma nota na mão e apresentando a sua ajuda como um facto consumado. O senhor lá nos foi levar ao rio, de início um pouco contrariado, mas depois, quando viu que estava perante malta séria, daquela que não diz uma asneira, não lança um ressonar, não diz mal do governo, não liberta uma bufa malcheirosa,…descontraiu-se e até desceu connosco ao rio.
Mais uma etapa fabulosa, desta vez com os músculos doridos do dia anterior e da falta de treino.
No final estávamos contentes por todo aquele envolvimento e por termos o carro já ali em cima…?...sim ali em cima…era só levar os caiaques e os fatos molhados ali, até onde tinha ficado o carro. No desfiladeiro do Águeda, o “Já ali em cima” significa “Mas nunca mais chegamos à porra do veículo …sem potência…”
A dureza da subida, fez saber melhor a frescura da bebida na companhia do senhor que nos salvou e nos ajudou a colocar o carro …já ali em cima...


Um fim de semana inesquecível, num rio inesquecível. A vida tem destes presentes reservados a quem se atreve a procurar...

2 comentários:

Jbras ws disse...

Parabéns por mais esta aventura recheada de dificuldades como mostra o vídeo, os kayaks saiam de lado de frente atravessados, muita pedra pela frente mas mais uma vez mostram que são uma equipa experiente que sabe contornar as dificuldades. Bom vídeo e parabéns por mais esta aventura bem sucedida .
Um Abraço
JBras
Wavesurvivors

Anônimo disse...

Abraço para os Wavesurvivors