Existem dias assim. Existe qualquer coisa que nos vem incomodando, uma espécie de moínha que nos massacra a boa disposição. Falta-nos água, o reboliço do espumaço. Vou a Lisboa e meto o caiaque dentro do carro, pelo sim pelo não. Tinha um pressentimento que ali havia o que precisava. Os amigos estavam lá à espera, para me levarem à praia onde vamos algumas vezes quando queremos curar as agruras do dia-a-dia . O Guincho estava ali, envolto em nevoeiro, sem ponta de vento...?...As ondas, médias a puxar para o quebra-coco, mas não interessava. Queríamos remar, deslizar, sentir o espumaço no trombil. Era o retorno do Pedro após o percalço no cávado, que ainda lhe vai valendo sessões de fisioterapia todos os dias. Agora estávamos ali os três, sem ninguém nos ver, de volta à água, a fazer ondas, um ritual que começámos quando começámos a canoar no guadiana no ano de 1989. Íamos com os nossos primeiros elefantes de plástico para a praia de Carcavelos, descer por elas abaixo, sem nenhum de nós imaginar o que seria fazer esquimotagem. Cada capotadela representava uma vinda à areia esvaziar o submarino para que pudesse de novo emergir. Como aquilo sabe bem; a água estava vazia de malta, mas cheia de sal. Cada chapada da água do Guincho na iris , correspondia a um saudável ardor dos olhos. Voltámos às lides em conjunto. O Jorge precisa de arranjar um novo wave-ski, porque o seu fóssil já não flutua com a sua massa corporal. Apesar disso, o Jorge na onda é sempre o Jorge na onda; aquela onda que o vi fazer já não me lembro há quantos anos, na praia do Béltico com um mar louco; alto, muito alto e alucinado. Eu tinha feito a minha única onda e cheguei à praia aos trambolhões sem metade do wave-ski; o Jorge Reis não conseguiu entrar de body board e observávamos o Jorge a surfar aquela onda enorme, perdido qual grão de areia numa monstruosa massa de água, a deslizar de forma fluida, sem pressas. E nós no Guincho exaustos, ao fim de pouco tempo. A idade já vai pesando, as costas doendo e não há maneira de passar este vício, esta maldição prazerosa de nos conduzir ao rio ou ao mar, para levarmos umas bolachadas. Ainda bem que estamos aqui no Guincho, os três imberbes quarentões a rirmo-nos não sabemos bem de quê, mas como isto sabe bem...
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
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