A vida tem destas coisas. Um gajo não se livra de chegar à tal idade que ninguém deseja alcançar. Não por existir um golpe de mágica degenerativa, que transforma um vigoroso atleta num artrítico ser, num abrir e fechar de olhos, mas porque se estigmatizou que os 40, representam a entrada na curva descendente da vida. Na realidade , em termos de maleitas físicas, os 39 representaram para mim um dos piores anos. Espero que não seja um augúrio para a entrada nesta malfadada coisa dos entas... De qualquer das formas tinha decidido que passaria o meu dia dos 40 anos de vida dentro de um rio. Tinha de forçar os meus amigalhaços a partilharem comigo essa comemoração, facto que se adivinha cada vez mais puxado a ferros (é que os gajos já passaram os 40 há alguns anos e estão a assim a caminhar para a pantufinha e o café com cevada em frente à televisão). Na realidade os amigos agora estão mais vocacionados para a neve e, lá me desencaminharam para fazer uma perninha no dia anterior, numas descidas na montanha em cima da prancheta. Tive assim a oportunidade de passar o que restava dos meus 39 anos a dar cuzada e cabeçada pela montanha abaixo. A coisa até correu melhor do que eu esperava, apesar da triste figura que fui obrigado a fazer, para conseguir apanhar aquele teleférico versão "panila", onde um gajo tem de meter uma borracha aconchegada nas bordas do traseiro e esperar pelo "esticão". O Pedro deu-se bem com a técnica logo nas primeiras vezes... questões de disponibilidade para a coisa... Deu gosto ver os meus sobrinhos, quais prós do snowboard, a deslizar na gazua pelo declive e a dizer ao tio que o esperavam lá em baixo. O Jorge, já numa fase mais evoluida, foi para Espanha reinar nas pistas das pampas...
Os "prós" nas pontas e o... outro... no meio
Até a apertar as patungas o tipo não é lá grande coisa ...
Bom mas voltemos ao que interessa. Aos meus 40 anos no rio. Para compensar a chuva que apanhámos na carola no topo da serra, um dia de sol para um rio predilecto...o Covo. O rio estava esplendoroso, fantástico, um caudal de fazer inveja...
...Pronto!...agora que já passei por um breve exercício de auto-convencimento, de alguém que fez quarenta espampanantes anos e mereceria melhor sorte, chegou a altura de assumir que...o rio estava,...ora bem,...como hei-de dizer,...uma Trampa!! É verdade, tudo começou com a porra dos cães!? a fuga dos meus cães arraçados de jumentos (pela envergadura e capacidade intelectual) e do cão do Pedro arraçado de Ogre muito bem educado; obedeceu à ordem do dono "vem já aqui!", uns minutos depois...Mas o mais curioso da história é que o ogre de 4 patas, veio apenas depois de sentir o imperceptível odor emanado pela cagadela do Jorge (parece que o canídeo estava já a uns 5 km...). Senão fosse esse promenor intestino-temporal, da vontade súbita do nosso amigo para defecar, e a esta hora o Shrek ainda estaria perdido no matagal. É caso para dizer "salvo pela bosta".
Como não acredito em Karmas, não liguei a este início conturbado da viagem e lá fomos até ao rio Covo. A opção parecia acertada, tinha chovido torrencialmente durante 3 dias e o Jorge não conhecia o rio; seria um bom dia para o conhecer. Quando chegámos percebemos que não teria lá muita água,...mas arriscámos...
O rio está catita...
Até parecia um bom início...
... até à 1ª entaladela
Água em barda...
Depois de entrar na água foi o que se sabe; calhau ali, entaladela acoli, raspadela de acolá. Perspectivava-se que metade dos nossos barcos ficariam fossilizados nas pedras do rio covo. Depois de duas entaladelas, comecei a acreditar no Karma e passou-me a sensação de que aquilo poderia ser um sinal de que , a partir dos 40, iria ser entalado muitas vezes e essa ideia não me agradou muito. Expus ao grupo a minha opinião: "entre ficar repetidamente entalado e entalar os dentes num bife de vaca arouquesa, qual a opção a seguir?..." O Jorge estava por tudo; o Pedro achou que poderíamos arrastar o traseiro durante mais algum tempo,...o tempo suficiente para se fartar também daquilo.
2ª entaladela
Isso! de marcha atrás! agora desvira, desvira...
Ele há cada peco,...dá mas é cá mais um eurio, que isto de arrumar o veiculo dos outros é mais caro...
Eh, eh, mais uma entaladela...
Buáááá...eu nã quero enta...ladelas...
Quem foi o camelo que me obrigou a vir para esta merda???
Abortámos a descida ao fim de umas quantas entaladelas. Rumámos a alvarenga para resolver a questão da chicha em cima do prato.
A caminho da bifanga
No caminho percebemos que o Paiva também não tinha água (na parte do sexo ups) e que apenas teria dado para descer o desfiladeiro.
Ao trincar o bife de alvarenga e depois de muito paleio, percebemos que a viragem dos entas nos leva para esta opção bastante digna e sábia de distribuição proporcional dos prazeres mundanos. Cada vez menos rio e cada vez mais trincadela na vitela. Não é mal pensado, não senhor, embora cá p'ra nós eu ainda não tivesse conseguido assumir em pleno essa proporção; é que o rio ainda nos faz um bem tremendo ...ao ego, apesar de alguma discordância das malfadadas artrites
Ficamos à espera de mais....