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45 anos no rio |
Diz-se que existe uma idade a partir da qual os anos já não se devem comemorar. Pois eu ainda não cheguei a essa idade!...o facto dos meus amigos me desafiarem para passarmos o meu dia de anos, a levar com água na cachimónia e a sentir os artelhos a tilintar de frio, é sinal de que vale a pena comemorar efusivamente o nosso quadragésimo quinto aniversário. Apesar da felicidade do momento (de meter as carnes quentinhas e encarquilhadas no frio fluvial siberiano ) os estado de espírito ainda estava ensombrado pelo luto que continuamos a fazer depois do inesperado (...inesperado,...?,...) desaparecimento desse fabuloso e mítico automóvel que nos acompanhou durante algumas descidas, que decidiu falecer à revelia do dono . Pois é, a minha bomba não aguentou tanto tratamento de choque e decidiu claudicar. Apesar do ...pesar...valha-me a vantagem de já não ter de ouvir referencias depreciativas ao estado de arrumação do mesmo (que estava sempre um brinco, mesmo com os pacotes de sumo espalmados debaixo do banco dos miúdos, as peúgas suadas rolando na bagageira, a casca de banana em processo de compostagem dentro das bolsas dos bancos).
Bom, mas passemos à acção. O Jorge e o Pedro apareceram no dia anterior para irmos descer a ribeira da Sertã seguido de uma belo repasto. Seria também o baptismo de rio do Rodrigo que se juntaria a nós em Vila do Rei. Chegámos à ribeira e verificámos que o generoso caudal poderia tornar a primeira experiência do Rodrigo como algo desagradável, uma vez que o leito estava com uma corrente contínua o que, apesar do desnível do rio não ser demasiado exigente, tornaria as paragens difíceis para que não rema habitualmente. O Jorge como mais velho e sábio do grupo alertou-nos para esse facto, eu concordei e o Pedro, pai do Rodrigo também, facto totalmente perceptível pela preocupação com o bem estar o seu rebento, exteriorizando com um: "Rodrigo, tu é que decides, mas eu penso que já que estás aqui, veste a porra do fato e trata de remar!!!...." Está claro que o Rodrigo ouviu os mais sábios e decidiu acompanhar por terra a descida. E ainda bem. Teria virado umas quantas vezes e sentido o fresquinho na moleirinha juntamente com uma enorme vontade de voltar a remar...
Descemos os 3 a ribeira de forma rápida, com uma paragem no meio para a mijoca e a terapia de grupo. Depois do almoço em V. do Rei , antes de voltarmos para minha casa fomos ver caiaques em 2º mão para o Jorge escolher. Fiel à sua reconhecida capacidade de decisão, deu 5 passagens pelos 20 caiaques que estavam para venda, com correspondente alombanço, para conseguir levar...1. Depois desta meticulosa escolha fomos recebidos pelos meus filhotes sentados nos pilares do muro equipados a rigor(capacetes e remos nas mãos) e algo solidificados pelo frio e fatigados pelas 372 vezes(nº de carros que passaram) que subiram aos pilares naquela hora entre o meu telefonema e a minha chegada.
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Recebidos por dois remadores estátuas |
Jantámos uma merecida feijoada em minha casa e brindámos ao desejo de, nos próximos anos, conseguirmos colocar as proeminentes carnes dentro do estreito cockpit dos caiaques e usufruirmos de mais dias destes entre os amigos e família. Fica no ar a interrogação da qualidade do ar respirado pelo Pedro e pelo Jorge no seu regresso a casa...a feijoada era boa, sim senhor...
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Um brinde à amizade e a mais feijoadas destas |