Esperávamos por este dilúvio há já algum tempo. Metemo-nos no carro e rumámos em direcção ao Covo. Tínhamos pensado no Cávado inicialmente mas como só ia o Pedro e eu, o Cávado era longe como camandro, ou seja, ao Cavado ficava caro como camandro. O Jorge?...bom, é com enorme mágoa que terei de admitir que o Jorge…defecou em nós. Trocou-nos por um dos 5538 reconhecimentos que já fez a 3214 barragens ou a 2324 trilhos de montanha por esse país fora. Um dia de eleição para rios de eleição e o gajo vai para o meio do mato fazer reconhecimentos?...só se os reconhecimentos tivessem umas coxas muito engraçadas e um busto bem firme e definido. Se assim for estás perdoado…
Não tínhamos a presença do Jorge no carro mas tínhamos a companhia de uma alegre e desinibida mosca. Ora pousa no vidro, ora esvoaça para o volante, ora aterra na cara, ora zumbe nos ouvidos. Enfim, um ser extremamente atraente e enérgico. Estaria feliz por finalmente alguém a levar a passear para fora desse marasmo onde apenas vê árvores e cagadelas de pássaro.
Depois de chamarmos uns nomes feios ao Jorge por nos ter trocado por um par de coxas, de espantarmos 50 vezes a mosca, do Pedro fazer umas imitações fiéis do criolo falado na sua escola de Chelas, chegámos a Castro de Aire para comermos “alguma” coisa antes de entrarmos na água. Tínhamos em mente fazermos uma espécie de dois em um. Como tínhamos apenas um dia, faríamos o Covo primeiro e depois escolheríamos entre o Tenente e o Águeda, dois rios ali perto e que, tal como o covo apenas se fazem com caudal elevado.
Chegámos ao rio e percebemos que o frio era muito, talvez daí a mosca não estivesse com muita vontade de abandonar o veículo. Ainda insisti com ela “Olha que aqui é muito bonito! existe ali água, umas ovelhinhas a pastar, uma aldeia muito engraçada, umas varejas reluzentes…até podes sentir este vento nas tuas asinhas…A mosca não estava para aí virada e ficou-nos a guardar os valores. Ainda bem, porque com a ladroagem que p’raí anda nunca se sabe. E assim se um gatuno se atrevesse a invadir o veículo levava logo com umas agressivas zumbidelas do canal auricular que logo se punha em fuga.
Ó Miguel Não queres fazer uma troca?
O rio Covo estava mais uma vez esplendoroso. Com muita água para nos garantir diversão. Começa logo com uma sequência boa para nos fazer abrir as pestanas e depois é sempre bom, muito bom, quase tão bom como comer um Magnum numa esplanada de Cascais, quase tão bom como ...esqueçam....
Estou com saudades da mosca...
É sem dúvida um dos nossos rios predilectos, por várias razões: É o mais perto de casa (apenas a 200km), os rápidos são sucessivos e existe sempre uma mosca que nos atanaza durante a viagem...
Com um caiaque mais maneirinho isto não acontecia!
Na procura de enriquecer este blogue com uma recolha incessante de imagens dá origem a aumentar o tempo de descida em mais uma hora. É certo que as imagens ficam sempre... como hei-de dizer, ...embaceadas,...mas a malta convence-se sempre que ficam muito melhores.
Chegámos ao final e tinha de se decidir quem punha a pernoca a funcionar para ir buscar o veículo ao início. O Matulão lá vociferou com o seu criolo aportuguesado que tinha má circulação nos membros inferiores, uma insuportável dor de costas, uma ezirpela rara, um tubérculo na canela, portanto não poderia correr. Olhei em volta e só sobravam os caiaques e eu. Ainda pensei em dar um toque à mosca, mas a tipa tinha chumbado no exame de código, porque estava distraída a olhar para as asas de outra mosca espampanante (falhou 5 questões, entre as quais aquela de "para que lado se roda a chave para por este veículo a iniciar a sua marcha"). Como a mosca não me podia trazer o carro e com o matulão agarrado à canela, só restava pôr-me ao caminho e fazer a corridita durante aqueles 5 quilómetros.
Até os caiaques se recusaram a ir buscar o carro....
Não tinha outro remédio senão...subir,...subir muito
Cheguei ao carro e lá estava o raio da mosca, encostada ao tablier com ar extenuado. Parece que um gang de tipos armados com shot guns quis entrar no carro e ela deu um enxerto de zumbidelas neles todos. Eu é que já não aguentava mais zumbidela...
Estarão os leitores a pensar, porque raio este gajo intitulou esta aventura de "Eu vi um sapo..."? Só o ouvimos falar da mosca(?)...mosca para aqui, mosca para acoli, e do sapo nada. Pois eu vou desvendar o mistério. Confirmei durante a descida, um estudo recente divulgado por uma conceituada revista Australiana, o qual assegurava que os sapos, para além de terem grandes pernas (mas não tão boas como a tipa do reconhecimento do jorge), de serem exímios nadadores, têm também uma enorme capacidade intelectual. Descobri então o enorme discernimento dos sapos quando, numa das paragens ia a pegar no meu caiaque e reparei num sapinho colado no seu interior. Não ficou nenhuma dúvida. Ele tinha ali dois barcos um ao lado do outro e saltou para dentro daquele que lhe possibilitaria um ninho mais aconchegante, com maior qualidade, com um aspecto mais belo. Depois de o deixar usufruir de tão bela embarcação por mais uns momentos, tive que o mandar para o seu habitat, apesar da sua enorme resistência e de um ou outro lacrimejar. Eis a prova do bom gosto do jovem sapo...
Eram 15.30h arrumámos as coisitas no carro e fomos abastecer a pança a Castro de Aire antes da próxima descida. Pedimos duas bifanas, enquanto estabelecíamos estratégias para o rio seguinte. Estávamos a pensar se descíamos os Tenente ou o Águeda. Olhámos lá para fora e chuvia à bruta; olhávamos para as bifanas e ...não chuvia nada. Então? vamos ao Águeda ou ao Tenente? - Olhe se faz favor!...venham mais duas bifanas e dois finos!
Os restos do "Águeda" e do "Tenente"
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