quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Senilidades

Cheguei a V. Cambra, deixei a mulher e os filhos e dei uma saltada ao paiva. O tempo chuvoso teimava em retirar-me a vontade de dar um mergulho, mas como sou teimoso lá fui. Não me apetecia mandar grandes cambalhotas; apetecia-me sobretudo descer qualquer coisa para tirar a ferrugem da disponibilidade para remar. A etapa Vau-Espiunca em solitário seria o ideal para voltar à carga. Cheguei à beira rio pelas 15,30h. Apressei-me em desmontar o caiaque, vesti o fato, colete, saiote...saiote??...onde está o saiote?...porra!!!...grande besta!...tinha-me esquecido do saiote em Torres Novas. Apetecia-me partir para a auto-flegelação, quando olhei para o tempo escuro e chuvoso, e pensei: talvez não seja tão mau assim. Voltei a montar o caiaque em cima do tejadilho e a moínha da teimosia voltava para me atazanar o espírito quase convencido. Rumei ao areínho na esperança de haver um canoísta que me facultasse o objecto anti-submersão. Vi muitos carros parados, sinal de que haveria malta a descer. Voltei a espiunca e lá estavam eles a chegar. Pedi um saiote ao primeiro canoista que vi , que rapidamente o dispensou (um agradecimento ao Rui Calado pela disponibilidade). "Vou ali remar um pouco e já tu devolvo!" disse apressadamente, que já estava tarde. Ainda dei uma palavrinha ao amigo Luis Vieira, que vinha nesse enorme grupo, e corri até ao rio. Desci aos 3 saltinhos e entrei no rio às 16,30h. Subi mais um pouco, escorreguei e mandei um bate cu e uma cotovelada num calhau. Veio-me à memória o espalho do Pedro. Pensei que uma luxação ali sozinho significava uma lixação ali sozinho, ou seja, um valente molho de bróculos. Não podia pensar nisso, remei um pouco, dei poucas cambalhotas e desci. Pretendia testar uma lesão no ombro que me persegue. O ombro continua lixado, ...mas que se lixe. Vamos ver quantas descidas consigo fazer este ano, assim... preso por arames.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Com sal pelas ventas...


Existem dias assim. Existe qualquer coisa que nos vem incomodando, uma espécie de moínha que nos massacra a boa disposição. Falta-nos água, o reboliço do espumaço. Vou a Lisboa e meto o caiaque dentro do carro, pelo sim pelo não. Tinha um pressentimento que ali havia o que precisava. Os amigos estavam lá à espera, para me levarem à praia onde vamos algumas vezes quando queremos curar as agruras do dia-a-dia . O Guincho estava ali, envolto em nevoeiro, sem ponta de vento...?...As ondas, médias a puxar para o quebra-coco, mas não interessava. Queríamos remar, deslizar, sentir o espumaço no trombil. Era o retorno do Pedro após o percalço no cávado, que ainda lhe vai valendo sessões de fisioterapia todos os dias. Agora estávamos ali os três, sem ninguém nos ver, de volta à água, a fazer ondas, um ritual que começámos quando começámos a canoar no guadiana no ano de 1989. Íamos com os nossos primeiros elefantes de plástico para a praia de Carcavelos, descer por elas abaixo, sem nenhum de nós imaginar o que seria fazer esquimotagem. Cada capotadela representava uma vinda à areia esvaziar o submarino para que pudesse de novo emergir. Como aquilo sabe bem; a água estava vazia de malta, mas cheia de sal. Cada chapada da água do Guincho na iris , correspondia a um saudável ardor dos olhos. Voltámos às lides em conjunto. O Jorge precisa de arranjar um novo wave-ski, porque o seu fóssil já não flutua com a sua massa corporal. Apesar disso, o Jorge na onda é sempre o Jorge na onda; aquela onda que o vi fazer já não me lembro há quantos anos, na praia do Béltico com um mar louco; alto, muito alto e alucinado. Eu tinha feito a minha única onda e cheguei à praia aos trambolhões sem metade do wave-ski; o Jorge Reis não conseguiu entrar de body board e observávamos o Jorge a surfar aquela onda enorme, perdido qual grão de areia numa monstruosa massa de água, a deslizar de forma fluida, sem pressas. E nós no Guincho exaustos, ao fim de pouco tempo. A idade já vai pesando, as costas doendo e não há maneira de passar este vício, esta maldição prazerosa de nos conduzir ao rio ou ao mar, para levarmos umas bolachadas. Ainda bem que estamos aqui no Guincho, os três imberbes quarentões a rirmo-nos não sabemos bem de quê, mas como isto sabe bem...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Amolgadelas


Estou a escrever a nossa descida do fim de semana e não sei bem o que dizer….As perspectivas eram a melhores... Conseguimos ir em período pré-salário que é o mesmo que dizer, período pós-penúria. Endividámo-nos com receio de que fossemos encontrar escassez de líquido daqui a uma semana.
Desta vez fomos os três: Jorge, Pedro e eu. Metemo-nos no carro e decidimos que iríamos lá bem para cima (eles disseram que eu é que decidi, mas é tudo treta desses malandros)…Já me esquecia,…eles têm-se queixado que eu tenho batido muito neles neste blogue, e eu vou tentar ser mais meiguinho, portanto, esqueçam lá essa parte dos “malandros” e ponham esses “excelentes rapazes”,…e já agora, esqueçam a “treta” e substituam por “a mais pura das verdades”. O plano traçado em cima do joelho, consagrava uma ida ao Cávado no sábado, para no domingo rumarmos ao Beça. Não tínhamos qualquer noção de caudais, mas esperávamos uma correnteza agradável, proporcionada por este Maio Adezembrado. À medida que os quilómetros iam passando, percebíamos que o rio tinha mesmo de valer muito a pena. A vantagem dessa loooonga viagem é que pudemos dizer mal à bruta dos Sócrates que nos entesa a cada dia que passa com a porra do deficit e que mais um anito e já só podemos descer rios nos meses do subsídio de férias,…parece que depois dos tipos conseguirem a meta de colocar o litro de gasóleo nos 2 euros até ao final do ano, vão dizer que o subsídio é um perigo para a saúde pública e tem de ser combatido.



Lá conseguimos encontrar o cávado depois de pisar muita bosta de vaca. O dia parecia querer colaborar; umas nuvens com o sol a espreitar davam o mote para uma boa descida. Primeira parte do percurso muito boa para desenferrujar a remada e depois é sempre em crescendo, com bonitas passagens, uma ou outra com mais inclinação, mas sem problemas. Parámos junto ao primeiro tobogan de enorme pendente à direita. Depois de alguma reflexão decidimos não fazê-lo,…mas a tentação foi muito, muito grande.





Foi com alguma inveja dos comentários fervorosos feitos à imagem da fabulosa máquina do Pedro, que eu decidi levar a minha esplendorosa e ultra-mega-pixel kodak com captação automática de enorme definição até das micro-pulgas no dorso de um canídeo. Seria um enriquecimento de monta na reportagem fotográfica . Levei também comigo uma caixa estanque do mais inovador que tem sido criado,…a sua marca?...tupperware!!! E não é que os tipos têm mesmo razão quando dizem que aquilo é mesmo estanque. Pois é, sim senhor…







Num rápido com algum pendente o Pedro quis fazer um teste de resistência ao seu material Wave-sport e vá de lançar com toda a fúria e os seus irrisórios quilitos, a proa da embarcação contra um calhau para ver no que dava. Deu numa reformulação tecnológica da frente do seu Habitat. Parece que é uma nova tendência em estudo pelos desenhadores da marca americana para os barcos do creek moderno… O Dono da embarcação é que não ficou lá muito contente e vá de mandar umas bojardas valentes em jeito de Karaoke…(eu também prometi que não falava nas capacidade vocais do Pedro para o Karaoke)…portanto esqueçam lá isso e troquem o “em jeito de Karaoke” e ponham lá “em jeito de Valentim Loureiro” .





Antes da amolgadela...


Depois da amolgadela e antes da outra amolgadela...


Que saudades do prijon...


Começou a chover, o que não era muito bom para a aderência naquelas pedras lisinhas das margens. Parámos para inspeccionar o salto, e o meu barco quis partir para o saltar sem o dono em cima (parece que o dono só atrapalha). O dono zangado gritou “Baaaarco” e o Pedro, correu solícito para o alcançar e Trum!…uma enorme escorregadela,…pernas no ar e braço em cima do calhau. A gravidade exercida pelos seus 100 quilos fez o resto. Um grito ecoou pelas escarpas. A princípio ainda nos apeteceu dizer, “Seu brincalhão! Deixa-te lá dessas traquinices!....vá, agora levanta-te e vamos ao que interessa!…”, mas ele continuava no seu calvário de dor. E aí percebemos que a coisa era feia. Desconfiámos de uma luxação do ombro e tentámos pôr aquilo no sítio, mas, depois de algumas marteladas, não conseguimos. O Pedro contorcia-se de dor ao mínimo movimento e foi aí que começámos a inspeccionar a retirada de emergência do rio. Olhámos em volta tudo era escarpado e agreste. A coisa estava negra. Não havia alternativa senão tentarmos subir aquela subida…classe…muito íngreme. Antes do acidentado pensar em negar a subida, disse-lhe logo, que poderia escolher entre aquele caminho no meio do silvado ou a minha reprodução em Karaoke do “deixa-me rir” do Jorge Palma. Ele lá foi…Sem catana para desbravar todos aquele matagal, fomos conquistando metro a metro na esperança de contacto com civilização. Demorámos cerca de meia hora até encontrarmos um antigo armazém em ruínas. Conseguimos chamar a ambulância que levou o Pedro até ao Hospital de Montalegre. Parece que os bombeiros, adeptos do todo-o-terreno, decidiram sujeitar o paciente a um trilho ao jeito da Mauritânia e a cada buraco que saltavam, o Pedro sentia-se mestrado em faquirismo. Em Montalegre, o médico que olhou para a luxação, fez a cara que um bovino faz quando lhe perguntam qual a raiz quadrada de 79(?). Não mexeu em nada…com medo de falhar na prática, a matéria do volume dois de anatomo-fisiologia que ensinava “Como pôr o osso no sítio em duas lições”. Mandou-o para o hospital de chaves,…outra vez em Todo-o-terreno…mais umas facazitas espetadas.
Eu e o Jorge arranjámos boleia para o carro e fomos ter com o Pedro. Decidimos que só iríamos resgatar os barcos no outro dia de manhã. Chegámos ao hospital e o Pedro ainda estava deanbulando entre o Raio X e o gabinete médico. Enquanto esperávamos debatíamos as nossas preocupações quanto ao estado de saúde do nosso amigo: “Esperemos que lhe ponham rápido aquilo no sítio que a gente tem de ir trincar a vitelinha!” .

Ele saiu com o braço ao peito e falou-nos da relação intimista que estabeleceu com o médico a sério (daqueles que até mexem no paciente) que o recebeu. Parece que ele lhe fez umas meiguices e depois “Trac!” ….(Como já perceberam Trac é o contrário de Trum). A coisa voltou ao sítio e nós já podemos trincar a vitelinha descansados. Ao longo do jantar o Pedro não se coibiu de reforçar a meiguice do médico, …e agora que eu ia novamente entrar em associações brejeiras,…lembrei-me de manter o nível e reforçar que o médico era um excelente ortopedista de seu nome Matos… Paiva (sintomático).
Ó p'ra mim aqui tão....coitadinho... cheio de dores...e o doutor era tão meiguinho


Depois de uma noite em som estereofónico entre o ressonar …perdão …a respiração um pouquinho sonora do Jorge,…e o ressonar …perdão…a trepidação imperceptível do Pedro, fomos resgatar os barcos. Descemos eu e o Jorge pelo silvado novamente e iríamos descer o resto do rio com os 3 caiaques, enquanto o Pedro nos iria buscar de carro à central. Optámos por não fazer o salto onde tínhamos ficado (um era escasso para garantir a segurança do outro) e depois, íamos à vez descendo os rápidos seguintes. Curiosamente a secção central, até ao mega tobogan foi a que se passou melhor, com 3 passagens magníficas. Depois daí, a coisa foi-se complicando, porque em alguns casos não dava para passar dentro do barco. Foi a fase da agradável alternância entre canelada, cotovelada, cuzada, joelhada nos calhaus. Ainda tivemos a esperança que o mostrengo …perdão…o volumoso caiaque do Pedro ganhasse pernas, e qual cavalo nas corridas de Ascott prosseguisse até à meta sem cavaleiro. Mas não!...acartámos à bruta com aquele volume todo.
Chapppp....


Um dos mais divertidos rápidos


Chapppp...



O sacana do mono...perdão...do volumoso,...não quer andar nem por nada...



O VIDEO Aqui



Acabámos o Cávado em dois penosos dias, em frente de mais uma vitelinha do melhor. Ficou-nos este sabor agridoce da beleza do rio e do ombro lixado do Pedro, e do cotovelo também, por não ter feito a segunda parte connosco dentro do barco. Lá voltaremos…para fazermos o pleno…



domingo, 13 de abril de 2008

Eu vi um sapo...


Esperávamos por este dilúvio há já algum tempo. Metemo-nos no carro e rumámos em direcção ao Covo. Tínhamos pensado no Cávado inicialmente mas como só ia o Pedro e eu, o Cávado era longe como camandro, ou seja, ao Cavado ficava caro como camandro. O Jorge?...bom, é com enorme mágoa que terei de admitir que o Jorge…defecou em nós. Trocou-nos por um dos 5538 reconhecimentos que já fez a 3214 barragens ou a 2324 trilhos de montanha por esse país fora. Um dia de eleição para rios de eleição e o gajo vai para o meio do mato fazer reconhecimentos?...só se os reconhecimentos tivessem umas coxas muito engraçadas e um busto bem firme e definido. Se assim for estás perdoado…
Não tínhamos a presença do Jorge no carro mas tínhamos a companhia de uma alegre e desinibida mosca. Ora pousa no vidro, ora esvoaça para o volante, ora aterra na cara, ora zumbe nos ouvidos. Enfim, um ser extremamente atraente e enérgico. Estaria feliz por finalmente alguém a levar a passear para fora desse marasmo onde apenas vê árvores e cagadelas de pássaro.
Depois de chamarmos uns nomes feios ao Jorge por nos ter trocado por um par de coxas, de espantarmos 50 vezes a mosca, do Pedro fazer umas imitações fiéis do criolo falado na sua escola de Chelas, chegámos a Castro de Aire para comermos “alguma” coisa antes de entrarmos na água. Tínhamos em mente fazermos uma espécie de dois em um. Como tínhamos apenas um dia, faríamos o Covo primeiro e depois escolheríamos entre o Tenente e o Águeda, dois rios ali perto e que, tal como o covo apenas se fazem com caudal elevado.
Chegámos ao rio e percebemos que o frio era muito, talvez daí a mosca não estivesse com muita vontade de abandonar o veículo. Ainda insisti com ela “Olha que aqui é muito bonito! existe ali água, umas ovelhinhas a pastar, uma aldeia muito engraçada, umas varejas reluzentes…até podes sentir este vento nas tuas asinhas…A mosca não estava para aí virada e ficou-nos a guardar os valores. Ainda bem, porque com a ladroagem que p’raí anda nunca se sabe. E assim se um gatuno se atrevesse a invadir o veículo levava logo com umas agressivas zumbidelas do canal auricular que logo se punha em fuga.


Ainda abrimos as portas a ver se a mosca saía...


Ó Miguel Não queres fazer uma troca?


O rio Covo estava mais uma vez esplendoroso. Com muita água para nos garantir diversão. Começa logo com uma sequência boa para nos fazer abrir as pestanas e depois é sempre bom, muito bom, quase tão bom como comer um Magnum numa esplanada de Cascais, quase tão bom como ...esqueçam....

Estou com saudades da mosca...


O Desnível é constante e o entusiasmo também. Para o cenário ser perfeito, apenas faltou um pouco mais de sol que por vezes espreitava timidamente pelas frinchas das nuvens (achei que ficava com nível esta metáfora aqui metida). Seguem-se as imagens que revelarão o esplendor deste fabuloso rio. A acção aparecerá no vídeo AQUI...cuja qualidade está claramente acima da média ou seja assim-assim (acima do mau e do péssimo).







É sem dúvida um dos nossos rios predilectos, por várias razões: É o mais perto de casa (apenas a 200km), os rápidos são sucessivos e existe sempre uma mosca que nos atanaza durante a viagem...


Com um caiaque mais maneirinho isto não acontecia!


Na procura de enriquecer este blogue com uma recolha incessante de imagens dá origem a aumentar o tempo de descida em mais uma hora. É certo que as imagens ficam sempre... como hei-de dizer, ...embaceadas,...mas a malta convence-se sempre que ficam muito melhores.


Chegámos ao final e tinha de se decidir quem punha a pernoca a funcionar para ir buscar o veículo ao início. O Matulão lá vociferou com o seu criolo aportuguesado que tinha má circulação nos membros inferiores, uma insuportável dor de costas, uma ezirpela rara, um tubérculo na canela, portanto não poderia correr. Olhei em volta e só sobravam os caiaques e eu. Ainda pensei em dar um toque à mosca, mas a tipa tinha chumbado no exame de código, porque estava distraída a olhar para as asas de outra mosca espampanante (falhou 5 questões, entre as quais aquela de "para que lado se roda a chave para por este veículo a iniciar a sua marcha"). Como a mosca não me podia trazer o carro e com o matulão agarrado à canela, só restava pôr-me ao caminho e fazer a corridita durante aqueles 5 quilómetros.

Até os caiaques se recusaram a ir buscar o carro....




Não tinha outro remédio senão...subir,...subir muito


Cheguei ao carro e lá estava o raio da mosca, encostada ao tablier com ar extenuado. Parece que um gang de tipos armados com shot guns quis entrar no carro e ela deu um enxerto de zumbidelas neles todos. Eu é que já não aguentava mais zumbidela...


Estarão os leitores a pensar, porque raio este gajo intitulou esta aventura de "Eu vi um sapo..."? Só o ouvimos falar da mosca(?)...mosca para aqui, mosca para acoli, e do sapo nada. Pois eu vou desvendar o mistério. Confirmei durante a descida, um estudo recente divulgado por uma conceituada revista Australiana, o qual assegurava que os sapos, para além de terem grandes pernas (mas não tão boas como a tipa do reconhecimento do jorge), de serem exímios nadadores, têm também uma enorme capacidade intelectual. Descobri então o enorme discernimento dos sapos quando, numa das paragens ia a pegar no meu caiaque e reparei num sapinho colado no seu interior. Não ficou nenhuma dúvida. Ele tinha ali dois barcos um ao lado do outro e saltou para dentro daquele que lhe possibilitaria um ninho mais aconchegante, com maior qualidade, com um aspecto mais belo. Depois de o deixar usufruir de tão bela embarcação por mais uns momentos, tive que o mandar para o seu habitat, apesar da sua enorme resistência e de um ou outro lacrimejar. Eis a prova do bom gosto do jovem sapo...


Eram 15.30h arrumámos as coisitas no carro e fomos abastecer a pança a Castro de Aire antes da próxima descida. Pedimos duas bifanas, enquanto estabelecíamos estratégias para o rio seguinte. Estávamos a pensar se descíamos os Tenente ou o Águeda. Olhámos lá para fora e chuvia à bruta; olhávamos para as bifanas e ...não chuvia nada. Então? vamos ao Águeda ou ao Tenente? - Olhe se faz favor!...venham mais duas bifanas e dois finos!


Os restos do "Águeda" e do "Tenente"


E a Mosca? A mosca iria regressar connosco. A última vez que me lembro de a ouvir Zumbir estava ela em cima da perna do Pedro, que não estava de muito bom humor. Ouvi um ruído que lembrava uma mão a espalmar qualquer coisa com asas. Poupando os pormenores mais sórdidos, apenas dizer que o tempo de vida da mosca foi reduzido de 5 para dois dias. A cerimónias fúnebres foram realizadas com alguma pompa e solenidade: os restos mortais foram lançados para o solo do meu carro com uma vigorosa dedada similar à de quem empurra o berlinde em direcção à covinha. Que descanse em paz... na covinha do meu tapete.


segunda-feira, 24 de março de 2008

O Chamamento


Estou em Vale de Cambra de visita aos meus sogros. O Paiva está demasiado perto e eu ali a pressionar no comando da televisão. Deambulo entre a RTP Memória e o Canal Panda. O caiaque na garagem parece que está inquieto. Quase o oiço implorar "Então? Vens dar uso à minha chaparia ou continuas aí encostado no sofá?". E o Paiva ali tão perto....Espero pelo momento oportuno para dizer à minha cara-metade que vou ali e já volto, mas ela não vê os pais há algum tempo, tenho de ser paciente. Vai sair com a mãe para as compras. Chega das compras e vai levar o pai a passear; ...é agora! ...vou-me pirar..."querida, achas que...", ...fui interrompido..."Olha vou agora com a minha mãe ali visitar a minha tia!",... E o paiva ali tão perto...porra! Voltou da tia e é desta! ...agora poderia ficar com os cachopos enquanto eu,..."olha Miguel só agora me lembrei que tenho de ir ali à Hermínia, a minha amiga que fez anos. Ficas aqui com os miúdos?"..."Concerteza, meu amor..." . O caiaque continuava a contorcer-se de impaciência, mas não havia nada a fazer, estava de baby-sitting a tempo inteiro, ou seja, sem tempo para ir ao paiva que estava ali tão perto. Epá tens de te impor! Quando ela voltar da Hermínia diz-lhe que vais ali comprar um maço de cigarros e já voltas...mas...eu nem fumo?...pronto uma caixa de pastilhas gorila...mas as gorila não vêem em caixas...umas tridente vá...
A coisa funcionou. Meti-me no carrito, o caiaque lá em cima aos saltos e lá fui eu para a minha terapia mensal. Não tinha a companhia do pedro (que recuperava a sua canela de mais um ataque a um infeliz que lhe quis dar uma naifada) e do jorge(que devia estar a acartar mais uns baldes de massa), mas como eu precisava de meter as ventas no líquido, lá fui alegre e contente. Repito aquele momento de prazer solitário há alguns anos e o gozo continua a mesmo. Chego à ponte de Espiunca, pego no caiaque e vou subindo o rio até ao rápido dos 3 saltinhos, onde permaneço às cambalhotas o tempo que as minhas capacidades e artroses suportarem o esforço e o frio da água. Perguntar-me-ão os mais entendidos: "Epá e que manobras fazes?" Não sei nem me interessa. Aquele é um momento em que apenas me sinto bem. Dentro duma massa de água que suga o caiaque com a força que tem, para o libertar na direcção que acha mais conveniente. A água que me percorre dos tímpanos até ao intestino delgado; que me entra a cem há hora pelas narinas e dá 4 voltas à massa encefálica. É o burburinho da água, o sol na cara, a sofreguidão depois de uma submersão mais demorada. E ninguém ali para testemunhar as minhas voltas nas voltas da água. Sou só eu o líquido e uns quantos calhaus à espera que me descuide.




Subo o rápido e remo até ao outro lá mais acima. Depois desço e volto a ficar ali nas minhas cambalhotas. Ouço um assobio. É um pastor com as suas cabras escaladoras ali metido no penhasco a observar e a pensar que tipo seria aquele que se estava a autoflagelar entre a água e os calhaus. Depois de 50 minutos, tinha de me põr em pé; já me doíam os joelhos. Desci do caiaque, baixei-me um pouco e as minhas costas gritaram em uníssono: " Toma lá com esta lombalgia que é para veres se te lembras de ficar em casa a pressionar o comando em busca de algo melhor do que o canal memória!". Meti-me todo empenado dentro do barco e lá me fui arrastando até à ponte para ver se conseguia pôr a custo o caiaque em cima do tejadilho do carro. Malditas costas! maldita ginástica na adolescência!...Maldito voleibol!..maldito canal memória! Tens de te deixar destas merdas... Foi então que me lembrei dos melindres que iria trincar em Arouca . Parece que as costas já me doem menos um bocadinho...


As fotografias foram tiradas numa época longíqua (cerca de 10 anos atrás) em que a minha esposa ainda me fazia companhia. Ela levava o seu livro e eu levava com água no toutiço. Agora se eu quiser fotografias tenho de chamar o pastor ou uma das cabras escaladoras.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A Penugem cresceu no Frades



A bomba estoirou. O Ministério Público deu início a um novo processo de aliciamento ilegal denominado “pagaia dourada”. Os indícios surgiram após a divulgação por parte do SIS, de escutas telefónicas feitas em duas habitações, onde se percebia claramente a pressão exercida pelo aliciador (Pedro P.) sobre o aliciado(Jorge P.). Os nomes são quase fictícios, para proteger as suas identidades (não que os malandros merecessem). Então aqui vai o diálogo:
Pedro P- Jorge, amanhã vais connosco ao rio!
Jorge P – Vou aonde?...
Pedro P – Ao rio! Já está tudo tratado. Já falei à Graça e ela deixa ir o Miguel sem exigir muito em troca ( confecção de jantar todos os dias durante um mês, 8 lavagens semanais da loiça durante 2 meses, banhos aos miúdos durante 3 meses e corte de todas as ervas daninhas do terreno durante toda a vida)!
Jorge P – Mas espera aí….
Pedro P – Não espero nada! Vais Buscar a chave do meu carro que está enterrada algures no meu terreno e depois pegas no carro que tem as minhas coisas dentro e vens ter comigo a T. Novas. Ah!.... já me esquecia,… a pá para desenterrares as chaves está encostada à casota do cão!
Jorge P- Mas eu não pos…
Pedro P- Ouve, aquilo da chave era a brincar. Podes descobri-la debaixo de um dos pneus do meu carro. Só o precisas de levantar..com algum jeitinho.
Jorge P – Epá! (todas as escutas têm de ter um “epá” pelo meio e já agora uma asneira ) deixa-me falar porra (aqui está ela)!
Pedro P – Ouve Jorge, espero-te aqui à noite para arrancarmos amanhã cedinho para V. Cambra!
Jorge P- Mas eu tenho de acabar a minha casa!...Não vai dar…
Pedro P – Acabar o quê?.....(silêncio de quem está a conter a gargalhada)…..Deixa-te disso! Tens mais 23 anos para acabares essa … construção!
Jorge P – Depois o cimento aumenta, e os tijolos ficam pela hora da morte…
Pedro P- Se começas com muitas merdas, mando-te aí uns capangas e eles acabam-te a casa num instante!
Jorge P- Epá isso é que não! …A que horas é que é para estar aí?

E foi assim que a pressão ilícita chegou ao mundo da canoagem. Primeiro o aliciamento; depois a ameaça …Felizmente estamos em Portugal e os tipos do Ministério Público estão mais interessados em resolver os verdadeiros casos de corrupção,…bom,… resolver?,…vá,….tentar resolver?.....fingir resolver?....não resolver?,….esqueçam lá isso.

Lá apareceu o Jorge à hora marcada. Depois percebeu a pressão do Pedro para ir ao rio. Estrear a sua pagaia nova…feita com materiais velhos!? Uma verdadeira obra de reutilização que o deixou muito orgulhoso. E era para estar! Não gastou dinheiro nenhum e construiu uma pagaia à sua medida: grande e pesada… A sua dúvida seria se a mesma conseguia flutuar no líquido, dado que o seu peso aspirava mais a funcionar como lastro. O Jorge não se ficou atrás e, também ele, construiu a sua pagaia, toda ela elaborada com material do mais fino ...chumbo. Apesar do esforço, não conseguia contudo, rivalizar com o mastodonte do Pedro.

No domingo choveu todo o dia em V. de Cambra e, depois de ver o grande caudal no rio Caima, convenci os meus companheiros a trocarmos o desfiladeiro do Paiva(inicialmente previsto) pelo rio Frades, que ainda nenhum de nós conhecia.
Pedi informação do local de embarque ao Luís Vieira e lá fomos até à entrada no rio. Quando chegámos lá percebemos que se calhar, não tinha chovido o suficiente.



Da mais leve para a mais Pesaaaada


O Pedro estava contra a descida e eu e o Jorge estávamos numa de descer para conhecer. Tivemos de exercer pressão ilícita para o convencer a descer (dissemos que caso não descesse, arranjávamos uns capangas para lhe roubarem a pagaia e fazerem dela uma âncora de petroleiro) . O Pedro Lá foi contrariado. O rio estava esplêndido, fabuloso, com um caudal espectacular, extraordinário…Agora que já terminei este intenso exercício de auto-convencimento, tenho de admitir que….(o que isto me vai custar),….o Pedro tinha razão! Pronto, consegui dizer. É verdade, o rio estava feito para ficar lá algum plástico dos nossos bonitos caiaques e quiçá parte da nossa carroçaria óssea.

Amolgadela na cremalheira


Fez-se tudo, algumas zonas(muitas) mais arrastadas do que outras(poucas). Para a história ficarão: o Bate Côxa do Pedro num calhau cuja vibração produziu uma espécie de maremoto no rio Frades; a amolgadela do novo caiaque do Pedro, num outro calhau do percurso; A cara do Pedro depois de olhar para a transfiguração do seu caiaque; o salto feito por um Pedro Furioso com tanto calhau.


Só P'ra mostrar a pagaia


Antes do Bate Côxa no calhau
Fúria pós-côxa amolgada

Depois da descida ainda colocámos a hipótese de rumar ao Paiva, para ver se remávamos um poucachinho, mas depois de despir os fatos, e pensarmos na coxa de frango que nos esperava em Arouca, decidimos que colocar fatos molhados sobre a epiderme não era para nós.

Exibindo a Coxinha magoada em frente da igreja...é pecado...

Existiu num entanto, um fenómeno curioso: A tosse que me perseguia há alguns dias, desapareceu durante a descida do rio. Fiquei sem a mais ténue pieira ou catarro. O meu cof, cof, deu lugar a um som estranho que ainda hoje estou para perceber o que significa. Era qualquer coisa do género “quac,quac…”

Penugem versão "National Geografic"



Hoje, ainda estamos num processo de recuperação psicológica e de vez em quando ainda tiramos uma ou outra penugem do dorso. Pressinto que não faltará muito para o SIS descobrir uma nova escuta telefónica:
Pedro P – Ó Miguel! Já está tudo pronto, para amanhã irmos ao desfiladeiro!
Miguel P- Epá (aqui está ele outra vez) não posso!
Pedro P- Já disse ao Jorge que lhe mandava uns capangas acabarem-lhe a casa e tu, se não te pões pianinho, ato-te a minha singela pagaia ao costázio e mando-te um encontrão para o rio!
Miguel P – A que horas é para estar pronto?...

O Micro- VIDEO Aqui...


E para terminar, deixamos esta montra de uma Companhia de Seguros em Arouca...Sem comentários...(atenção...uma companhia de seguros...)