segunda-feira, 16 de abril de 2007

Mouro e Vez - lembrando os Alpes

9 de Dezembro de 2006




Rumámos ao Rio Mouro ali perto de Monção. Duas semanas após as grandes cheias lá fomos (Pedro, Jorge J. e eu) convencidos que os caudais já estariam mais baixos. À medida que os quilómetros passavam, e nós passávamos por cima das pontes, começámos a ver que lá para cima a chuva não teria abrandado...assim muito. Mondego em cheia, Vouga em cheia e todos os outros rios que vislumbrávamos tinham as árvores bem no meio da correnteza...sinal que a cheia continuava por ali. Não esmorecemos e fomos optimistas até à ponte de saída para o rio Mouro. Tudo aquilo era uma grande massa branca de água, levando-nos a questionar se valeria o risco...arriscarmos. Arriscámos e lá fomos nós na corrente, sempre pata a fundo, lembrando as descidas dos Alpes franceses que fizemos em 2003.
Com poucas zonas de recuperação, com bom desnível, muito frio e muita chuva pela cachimónia...










Optámos por não fazer um salto a meio do percurso porque o retorno que formava, não era muito convidativo para um mergulho sem guelras...Ao vivo, era um bocadito mais imponente...




Num dos rápidos mais desafiadores e longos do trajecto (não dava para ver bem a parte final), foi altura para sentir a consistência de um calhau bem na lateral da minha testa, levando aos mais despropositados comentários tauromáticos dos meus dois companheiros no resto da descida. Capotei em dois retornos na parte final da passagem (após o tronco que passava o rio) e senti que o meu velho capacete estava zangado comigo. Quando esquimotei e consegui uns metros mais à frente encostar, percebi que o meu corno rivalizava com um dos bois de qualquer ganadaria de sucesso. A vantagem da frescura do líquido, é que pus o corno de molho, e 5 minutos depois já só aparentava ser um cornito de bezerro no desmame. As imagem documentam a sequência do rápido....













Dizem que pareço o calimero com este capacete não sou eu que faço muuuu...


Mais umas quantas passagens e, com o adiantado da hora, decidimos sair do rio enquanto era de dia (para não repetir a penumbra do covo). A subida até à estrada, foi penosa,...muito penosaaaa.



Acabámos a comer a Vitela e o Polvo à lagareiro em Ponte de Lima (cada meia dose dá para uma família completa; piriquito incluido)






Rio Vez





Depois de uma noite bem/mal passada na pousada da juventude (sim, ...descobri que sou bué da jovem e todos os que lá pernoitaram muitos com aspecto de avôzinhos...), arrancámos até ao rio Vez. Com a experiência do Mouro íamos à espera de mais uma descida vertiginosa com carradas de água. O meu corno estava agora muito mais reduzido, penso que se escondeu talvez por não suportar o ressonar de Jorge Betoneira, que deveria ter dormido a 6 quartos de distância do nosso, mas optou por ocupar o beliche ao lado do meu. Senti-me na Terra do Asterix a ter de suportar o Bardo toda a noite a recitar uma das suas magníficas canções ...

Nem o tampão vedou os decibéis

O bardo e o ouvinte com aspecto radiante

Apesar desse "pequeno" precalço sensorial, lá fomos para o rio Vez, nunca feito por nenhum de nós. optámos por fazer um troço do rio bastante animado entre a Ermida Sr do Aflitos (o nome não augurava nada de muito bom) e a Ponte de Neval. Eram 6Km com 90 metros de desnível, que com o caudal do dia anterior , nos dava alguma garantia de diversão em segurança. Encontrámos uns quantos espanhóis na entrada do rio (sinal que não utilizam o nosso país só para nos venderem roupa, calçado, fruta, peixe e afins). Como estávamos com alguma carência calórica, optámos por não descer com nuestros hermanos, mas abastecer os nossos delicados estômagos de portugas lateiros, com duas sandes de presunto em pão de cacete, uns sumos e um copo de boa pinga que o padeiro nos obrigou a engolir (só para provar, está claro...). O nosso repasto pré-rio desenrolou-se ali num café que não ia abrir, mas perante o nossa cara de "coitadinhos que não têm nada para comer" (principalmente o raquítico do Pedro) a senhora lá nos fez o jeito. Enfardámos que nem uns condenados e entrámos no rio a arrotar. A descida revelou-se bem mais fácil do que a anterior, sempre bastante animada sem serem necessários reconhecimentos fora do barco, talvez por isso também se tiraram poucas fotografias, que apresento hoje em slideshow (que aprendi hoje a fazer e dá outra dimensão internacional e riqueza a este blogue)
















No final da descida, quando nos preparávamos para a nossa penosa e habitual corrida, o Pedro vislumbrou um senhor dentro de uma carrinha de caixa aberta a parar junto ao café (que nos deu a paparoca) e utilizou a técnica do voluntário forçado: Ó chefe, a malta paga-lhe o gasóleo e o senhor vai-nos ali levar ao local onde temos carro!?...em linguagem de Cova da Moura "ou vais lá ou a malta tem de se chatear". O pobre do homem que não ia lá...teve de ir...lá. Bendita boleia. Como estava um pouco frescote, subimos para a caixa aberta e tentámo-nos abrigar do vento. O jorge, achou que não era preciso e aqui está a sua cara, segundos antes de criar um bloco de gelo à volta da sua narigueta.

Ó p'ra mim tão contente e prestes a transformar-me em pinguim


Depois de delicada operação para descongelamento do nariz e demais orgãos salientes do Jorge (alguns (que omitimos) não tiveram salvação) regressámos ao aconchego do lar, sempre com uma ideia no pensamento: Mas será que não estamos já velhos para apanharmos com este frio e esta chuva na cachimónia?...Não!!! responde a nosso ego em uníssono, num claro exercício de autoconvencimento...e de não aceitação de que as nossas artroses agradeceriam a troca desta água fria por umas pantufinhas e uma lareira quentinha....



quinta-feira, 12 de abril de 2007

Fabuloso rio Covo

Outubro de 2006:


Poucos dias após as primeiras cheias, eu e o Pedro aproveitámos um sol radioso e rumámos à descoberta do rio covo. O rio covo é um afluente do Paiva, mais pequeno do que este, mais estreito e com maior desnível, num vale esplendoroso. Um outro aliciante para nós, era a distância, relativamente curta entre a partida e a chegada. Limitações de ordem logística para quem só tem um carro. Descemos com o equipamento dentro do caiaque para ir buscar o carro a correr, no final do percurso na água (ainda não consegui ensiná-lo a vir ter connosco ao assobio).







Apressámo-nos a equipar, e colocámos os caiaques na água. O rio começa logo com uma sequência de três saltos bastante interessante, para não termos tempo de nos queixarmos da monotonia . Fiz a 1ª passagem enquanto o pedro captava o meu melhor sorriso . Não se vê bem na fotografia fruto da deplorável qualidade do fotógrafo e da máquina que os chineses lhe venderam dizendo que era uma cannon...




De seguida, eu ia explicar ao Pedro como um excelente fotógrafo pode culmatar carências qualitativas da máquina, mas eis que, antes do 1º salto, a sua decrépita pagaia, decidiu pela recusa e partiu-se sem mais nem menos. Resultado: estávamos na eminência de termos feito um porradão de quilómetros para ficarmos por ali mesmo, uma vez que não tínhamos mais nenhuma pagaia suplente (o ordenado de professor não dá para mais...). O Pedro também conhecido por "Macgyver Versão Melhorada" pôs-se logo de volta daquilo, com olhar de quem lida mal com a palavra impossível. Corda daqui, aperto dacoli, puxão dacolá...e nada! Eu olhava para aquelas tentativas com um optimismo a roçar o PIB português. Decidimos que o melhor seria irmos à aldeia ali perto procurar um ferreiro que nos desenrascasse a um fim de semana. Quando nos dirigíamos à procura de ajuda, cheios de pressa, ouvimos: ajudem!...ajudem!...? mas seria o nosso eco?...eram duas cabras (daquelas com pêlo e barbela) mãe e filha que, não só se tinham convencido que conseguiam nadar, como apostaram que faziam o primeiro rápido mais depressa do que a pagaia do Pedro. Estavam as duas dentro do rio e os donos sem saber o que fazer. Pedro com o seu super-poder puxa pela corda, e a mim, restava-me a parte mais hijiénica e humilhante, dentro do rio a empurrar as nalgas do caprino...esperando a qualquer momento por uma surpresa em forma de gás de rectaguarda. Lá pusemos os bichos a salvo e encontrámos um ferreiro que não sabia de ferragem, mais pessimista do que eu, mas que foi forçado a arranjar, empurrado pelo optimismo e tamanho exarcebado de Pedro Macgyver.


Pela diferença de estatura, facilmente se depreende que o ferreiro, mesmo contrariado, não tinha outro remédio senão seguir a sugestão do Pedro....




Depois do ferreiro ter sido quase forçado a fazer um trabalho de ferragem, a pagaia parecia sólida para aguentar a descida. Entrámos na água perto da uma o que não dos dava muito tempo para fazer um rio que não conhecíamos. Desta vez a pagaia não se recusou e lá consegui fazer uma foto do Pedro, que não exponho aqui porque já está exposta no grande festival de fotografia de Oslo, tendo sido nomeada como uma das 5 melhores fotografias do ano de...2008(?) (todos acreditavam que só daqui a um ano seria possível produzir e compreender uma obra daquela magnitude) e candidata ao prémio da melhor Foto do Ano ..na realidade, esta foi a maneira de dizer que a fotografia ficou, como ei-de dizer, com uma aparência similar à caganeta produzida pelo traseiro do caprino que eu estive a empurrar...Obviamente, que essa pequena falha, foi paga durante toda a descida pelos impropérios do Pedro sobre as minhas enormes capacidades de repórter fotográfico.




Prosseguimos na nossa descida, com inúmeros reconhecimentos, e o rio foi-se todo fazendo, sempre com passagens estreitas, sucessivas e de grande beleza.











Antes do meio da descida, foi tempo para enaltecer as grandes qualidades do ferreiro, que tinha posto um micro-rebite na pagaia, que acabou por partir. Macguiver Versão Melhorada, tinha o desafio à sua altura. Sem qualquer tipo de ferramenta, conseguiu encontrar um resto de garrafão de lixívia numa das margens (sinal de que estávamos em Portugal) e lá conseguiu fazer uma pagaia presa por arames (quase literalmente). Nos rápidos mais complicados emprestava-lhe a minha pagaia e lá fomos indo, desconfiando que iríamos chegar perto da noite. Não só estávamos perto da noite como a noite nos disse qualquer coisa ao ouvido, que me parece ter sido: ...Espero que tenham as lanternas...mas nós não tínhamos. Vá de remar, sem tempo para parar ou reconhecer rápidos, na mais completa penumbra, até que chegámos ao local onde o rio Covo termina e se prepara para entrar no paiva. Tínhamos chegado ao fim, mas ainda nos faltavam os 5 km de corrida, que nestas coisas de descidas de rio, significa quase sempre a subir...



No aconchego do carrinho, estávamos convictos que tínhamos merecido a refeição da noite, que fomos comer em Viseu.


Voltámos a descer o Covo os dois, já em Fevereiro deste ano, depois de uma ida ao rio Varosa em vão, porque a mini-hídrica desse rio,apenas viabilizava uma descida... com o caiaque às costas. Acabámos no Covo, para mais uma magnífica descida nesse magnífico rio. Captámos mais imagens de vídeo (que quando eu souber introduzir...introduzirei...). A imagem que se segue foi das poucas que sairam razoáveis (é que o Pedro arranjou um sistema hermético, para a câmara não se molhar, ...nem fazer fotografias muito nítidas...)





Ver o VIDEO AQUI












Alpes / Pirinéus / Minho


Alpes 2003


Quando decidimos saber como seriam os rios alpinos, antes descobrimos que Barcelona fica longe comó camandro. Depois descobrimos que os Alpes ficam um bom bocado para além do longe comó camandro. Apesar da viagem dia e noite, chegámos a Briançon e logo nos rendemos ao banquete de rios que tínhamos pela frente, pelos lados, por trás...bom,...essa talvez não. Para onde nós nos virássemos havia muita água branca para darmos banho aos caiaques. Fomos participar no Festival de Kayak de Briançon, no qual se pagavam 8 contos com direito a 4 dias de rio, alojamento em estância de ski, refeições e concertos ao vivo e a cores. Fizemos troços dos rio Onde, Gyronde, Clarée, Durance, Guisanne. Basicamente enchemos o papo de rios aos quais não estávamos habituados; desnível constante, corrente constante, poucos espaços para respirar obedecendo à máxima: se sais do barco só o apanharás no oceano... Para além disso, apesar do calor exterior, a água estava no 1 grau centígrato, desencorajando os mergulhadores mais atrevidos. Desde logo percebemos a nossa enorme apetência para o domínio da língua francesa, uma vez que, a qualquer frase que nós utilizávamos para uma comunicação profíqua com os nossos amigos franceses, eles respondiam com um hã? seguido de um sorriso amarelo. O único que não percebia que não falava patavina de francês era o Pedro, dado que continuava sem qualquer tipo de pudor e de forma desinibida a comunicar com os franceses apesar de geralmente eles fazerem cara de quem está a ouvir moldavo. Mesmo com essas pequen..inas falhas na comunicação, os anfitriões foram impecáveis e só ficámos com pena do pouco tempo que tínhamos disponível, senão teríamos ficado para descer mais uns riozitos. Mas lá voltaremos decerto em breve ...


PIRINÉUS
No ano de 1997, demos um salto aos pirinéus. Embarquei com o Pedro e o Jorge Reis, numa viagem nada fácil uma vez que tínhamos os sacos do Jorge no banco de trás. Explicando melhor, o Jorge não utiliza um saco, nem tão pouco uma mochila, nem mesmo mala de viagem, mas dispersa a sua roupa, chinelos, champoo, cebolas, fatias de fiambre, latas de atum e afins, num sem número (tire-se o "sem" e ponha-se "cem") de sacos de plástico que consegue espalhar por todo o carro (debaixo do pedal da embraiagem inclusive) transformando-o numa verdadeira loja de ferragens da época medieval. O resultado traduzia-se quase sempre no tempo que perdíamos em cada estação de serviço, em cada café, em cada restaurante, em cada apeadeiro, porque o Jorge não conseguia encontrar o fio dental. Quando lá encontrava a pasta de dentes debaixo de um tomate e por cima de umas meias mal cheirosas, já eu e o Pedro tínhamos almoçado, mijado e bufado(sem cheiro) à espera de sua excelência.
Fomos para a região de Sort que tinha à porta o rio Noguera de Palarestra e onde se realizava um evento competitivo de slalom, rodeo e descidas informais. Estivemos por lá 3/4 dias e ficámos um pouco desapontados com o rio. Esperávamos algo mais desnivelado e difícil, numa época em que estávamos os três com todo o sangue na guelra e ansiosos por desafios um pouco mais dolorosos do que o Paiva. Descemos várias vezes o rio, aproveitando para brincar em todos os retornos e ondas que encontrávamos e, em frente a sort estava uma onda onde muita malta reinava e se estava quase até à noite.



Já um pouco fartos do Noguera, rumámos até à pista artificial onde se realizaram as competições olímpicas de Slalom (Barcelona/Seil D'Urgell), mas a pista tinha pouca água, mas ficaria com mais água se pagássemos cada um um valor que já não me lembro, mas que nos fez decidir que não valia a pena o esforço.

Já tínhamos pouco tempo, para regressar (os vistos de permanência passados pelas nas nossas esposas estavam quase a terminar). Fomos depois até ao rio Ara que tínhamos visto algures que seria um bom rio para se fazer. Quando lá chegámos, o s. Pedro foi assaltado por uma grave incontinência e vá de borrifar as nossas doces moleirinhas com metros cúbicos de água à fartazana. Estávamos nós à procura do acesso ao rio (na altura não tínhamos qualquer guia que nos ...guiasse) e aquela molha em forma de banho de mangueira, tolhía-nos a vontade de remar o que quer que fosse. Com a dificuldade em encontrar o tal acesso e a facilidade em apanhar com litros de água pela cachimónia, optámos pela secura do nosso veículo e o quentinho da nossa sofage. Vamos mas é para Portugal, que lá estará sol e calor em barda!...E lá viemos nós toda a noite, a ver se não fechávamos os olhos e explicávamos ao Jorge que ao fim de meia hora na autoestrada com a 4ª metida, poderia pôr a 5ª que o carro não se queixava.

E foi assim que chegámos vivos a Portugal. O Jorge demorou cerca de uma hora e 57 minutos para encontrar todos os seus haveres plastificados que foram directamente para o seu quarto...

O rio Ara , por ser uma pedra no sapato, terá de ser feito, brevemente...

RIO MINHO

As memórias do minho nascem dos dois encontros que fomos em 92 e 93, com ténue registo fotográfico (num dos anos o registo ficou dentro do rio, porque perdi a máquina). Serviram estes encontros, para conhecer outra malta que descia rios e remava muito melhor do que nós.










Foi o início do rodeo (manobras em pequenos retornos e ondas) com barcos de quase 3 metros. No 1º encontro conhecemos uns tipos ingleses muito prestáveis que remavam à bruta e, para além de nos brindarem com as suas habilidades (até aí desconhecidas para nós), nos iam dando dicas das técnicas para as manobras verticais. Quando chegámos à noite, exibiram um vídeo verdadeiramente assustador, de saltos de cascatas e outras passagens aparentemente impossíveis ao comum dos mortais. Depois aparece a cara de um dos ingleses que nos tinham aconselhado no rio o seu nome Shaun Baker , "apenas" o recordista de salto em caiaque na altura com 18 metros (actualmente o record já vai nos 23 metros feitos por uma rapariga francesa)...ele há malucos para tudo.

O mais interessante do rio Minho reside numa enorme onda que se forma e que possibilita um surf fora de mar, assim como umas quantas manobras. Antes dessa onda existe um retorno bastante retentivo onde podemos usufruir da sensação plena, do que sentirão as peúgas quando as colocamos na máquina de lavar...

Desde então nunca mais remei no Minho...


A imagem que se segue, não tem relação com o Minho, mas encontrei o site desse inglês de que falei e esta "piquena" cascata vinha lá com um caiaque a descê-la ...coisa pouca...


Aquele ponto pequenino lá em cima é o tipo de caiaque a mandar-se por ali abaixo

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Histórias do Paiva

A descoberta do Desfiladeiro

No ano de 1990 ouvimos falar num rio lá para o norte que tinha uma pista de slalom (vertente de águas bravas da modalidade olímpica). O nome do rio: PAIVA. O Jorge Justino pegou no seu 127 e com ele embarcámos eu e o Fernando. Chegámos à tal pista de slalom e ficámos entusiasmados com a sequência de rápidos. Descemos aquele pequeno troço e encontrámos um canoísta de nome Aníbal que era português e tinha representado a selecção olímpica da França para competir no Slalom. Falou-nos do rio e quando lhe perguntámos como era mais acima ele abanou a cabeça e disse: Isso não é para vocês! ...o que nós pensámos?...Isso é para nós! e lá fomos no outro dia de manhã bem cedinho descer o desfiladeiro, ou como hoje lhe chamam a garganta. Estávamos ali sentados no muro a vislumbrar o rio lá em baixo à espera que os nossos fatos secassem um bocadinho do dia anterior.


Quando lá conseguimos vestir aquelas desconfortáveis e gélidas vestes, pusemos os barcos na água e iniciámos a descida daquele magnífico desfiladeiro perto da ponte de Alvarenga. Uma experiência completamente nova para nós. Rápidos aparecendo de forma quase contínua, para todos os gostos no meio daquelas duas enormes paredes de rocha com cascatas a escorrerem por elas abaixo. No primeiro rápido mais técnico e com maior desnível ficámos a ver o Jorge a fazer (ele era quem dominava a arte) para nos mandarmos a ele de seguida. Não tínhamos cordas de resgate na altura, portanto só poderíamos ver e incentivar. As coisas correram bem...e nós fizemos também relativamente limpo.



No 2º rápido, com maior desnível que o anterior percebemos que não seria pêra fácil. O Jorge, mais uma vez fez de cobaia e lançou-se na claridade daquelas águas revoltas e nós, fora de água, assistiamos à sua habilidade para enfrentar as cornadas sucessivas que aquele "boi" lhe ia inflingindo. Chegou cá abaixo ofegante mas em cima do barco. Disse-me que se eu o fizesse que não poderia voltar senão as cornadas dos calhaus poderiam doer um bocadito.



Meti-me dentro do caiaque com a pulsação a mil. A frase não me saía da cabeça "não podes virar, não podes virar...". Entrei no rápido e...virei. Saí do barco (na altura também não fazia esquimotagem - técnica de retorno à superfície dentro do barco) e mandei as mãos a um calhau tipo lapa, conseguindo não engolir mais pirulitos. O susto foi grande mas estimulador para futuras descidas.


Na 2ª vez que fizemos este troço do rio ( Janeiro de 1991) já o grupo era maior (erámos seis ao todo). Já tínhamos novamente o Pedro e o seu panda (para as emoções fora do rio) e até foi connosco um brasileiro, num barco de fibra que se decompôs antes de chegar ao fim. Num dia de sol esplendoroso, estava ansioso para voltar a encontrar o rápido que me tinha feito reencarnar um percebe cola do à rocha. No primeiro rápido mais técnico fizemos o resgate dum barco que ficou preso nas pedras e demorou algum tempo a convencê-lo a sair.





Depois de todos passarmos, remei apressadamente para ir ver o tal rápido mais doloroso (marmitas) e, entrei num rápido que não me lembrava mas parecia-me algo estranho e difícil. Quando cheguei ao fim, olhei para trás e verifiquei que tinha feito a tal passagem sem saber que estava a fazer. Tive de o voltar a descer para o fazer, para exorcisar definitivamente o tal fantasma da lapa no rochedo...




Mais uns quilómetros de rio e muitos e bons rápidos pelo meio, estávamos prontos para meter o dente no bife da vaca arouquesa feita pelo dono do café,talhante, dono de mini-mercado e padeiro de Canelas, uma aldeia perto do rio no concelho de Arouca. Comia-se muito e pagava-se muito pouco, o sonho de qualquer esfomeado teso. Como se não bastasse o repasto, ainda nos dava guarida no anexo que iria dar lugar ao novo mini-mercado, bem por cima da padaria.




O Paiva, considerado o rio mais limpo da Europa, tem sido sem dúvida aquele que nos tem dado mais histórias para contar ao longo dos anos. Todas as descidas são diferentes como diferentes são as aventuras. Para além destas duas descidas iniciais marcantes , ficará na memória a descida que fiz com o Pedro em regime de Non-Stop da garganta (fazer tudo sem parar para ver) um desafio algo louco, mas quando, terminado, deu para atazanar os Jorges com a nossa aventura. Outra descida com o Jorge R. feita com um nível generoso de água e a confiança no topo, em que todos os rápidos forma sendo gozados até ao tutano. Ou Aquela que fizemos os Três (eu, o Pedro e o Jorge R) com um caudal perto da cheia para preparar os pirinéus (o registo que se segue é dessa descida com muita, muita água...).




Em 2004 fica também na memória a descida/subida que fiz com o Pedro, com a corrida final, para ir buscar o carro, de 9 km sempre a subir e mais 1 a descer entre a ponte de Espiunca e a de Alvarenga...


Cambalhotas

É também no Paiva onde continuo actualmente a encontrar a minha terapia sempre que posso, muitas vezes sozinho, ali num rápido de estimação bem metido no meio do rio, onde dou algumas cambalhotas só com o ruído da água como companhia, experiência suficiente para recarregar as baterias de suporte das agruras do dia a dia. As imagens que se seguem são algumas da reinação que esse simples retorno de água no Paiva pode originar...































































Etapa de Castro D'Aire


Existe outra parte do rio que só desci pela 1ª vez no ano passado que passa mesmo em frente de Castro de Aire. Chamaram-lhe "sex-up", mas ainda não consegui encontrar qualquer associação libidinosa; o responsável lá saberá. Combinei com o amigo Luis Vieira, que já conhecia o troço e fez de cicerone. Lá fomos os dois descer num dia em que se via neve nas margens. A água estava portanto bem, ...muito bem friiiiiinha. O troço é muito engraçado, com bom desnível, bastante técnico e um pouco labiríntico. Tem a vantagem de se conseguir fazer dispensando grandes reconhecimentos fora do caiaque. Fizemos tudo aquilo num instantinho cheios de vontade de repetir.

Entretanto já o fiz mais duas vezes, a segunda com o Pedro também feito prego a fundo, só com espaço para 2 reconhecimentos das duas passagens com menos visibilidade.




A terceira , fizemos agora em Março de 2007 com o Jorge Justino . Desta última vez, foi uma alternativa ao rio Tedo onde chegámos a entrar, para abortar a descida por falta de água. Fomos assim parar ao paiva. O rio tinha menos água, obrigando a mais reconhecimentos, sob pena de ficarmos presos nos calhaus. Levámos a máquina e experimentámos uns videozecos e poucas imagens pelo carácter contínuo do rio. Ver o video AQUI