quarta-feira, 11 de abril de 2007

Histórias do Paiva

A descoberta do Desfiladeiro

No ano de 1990 ouvimos falar num rio lá para o norte que tinha uma pista de slalom (vertente de águas bravas da modalidade olímpica). O nome do rio: PAIVA. O Jorge Justino pegou no seu 127 e com ele embarcámos eu e o Fernando. Chegámos à tal pista de slalom e ficámos entusiasmados com a sequência de rápidos. Descemos aquele pequeno troço e encontrámos um canoísta de nome Aníbal que era português e tinha representado a selecção olímpica da França para competir no Slalom. Falou-nos do rio e quando lhe perguntámos como era mais acima ele abanou a cabeça e disse: Isso não é para vocês! ...o que nós pensámos?...Isso é para nós! e lá fomos no outro dia de manhã bem cedinho descer o desfiladeiro, ou como hoje lhe chamam a garganta. Estávamos ali sentados no muro a vislumbrar o rio lá em baixo à espera que os nossos fatos secassem um bocadinho do dia anterior.


Quando lá conseguimos vestir aquelas desconfortáveis e gélidas vestes, pusemos os barcos na água e iniciámos a descida daquele magnífico desfiladeiro perto da ponte de Alvarenga. Uma experiência completamente nova para nós. Rápidos aparecendo de forma quase contínua, para todos os gostos no meio daquelas duas enormes paredes de rocha com cascatas a escorrerem por elas abaixo. No primeiro rápido mais técnico e com maior desnível ficámos a ver o Jorge a fazer (ele era quem dominava a arte) para nos mandarmos a ele de seguida. Não tínhamos cordas de resgate na altura, portanto só poderíamos ver e incentivar. As coisas correram bem...e nós fizemos também relativamente limpo.



No 2º rápido, com maior desnível que o anterior percebemos que não seria pêra fácil. O Jorge, mais uma vez fez de cobaia e lançou-se na claridade daquelas águas revoltas e nós, fora de água, assistiamos à sua habilidade para enfrentar as cornadas sucessivas que aquele "boi" lhe ia inflingindo. Chegou cá abaixo ofegante mas em cima do barco. Disse-me que se eu o fizesse que não poderia voltar senão as cornadas dos calhaus poderiam doer um bocadito.



Meti-me dentro do caiaque com a pulsação a mil. A frase não me saía da cabeça "não podes virar, não podes virar...". Entrei no rápido e...virei. Saí do barco (na altura também não fazia esquimotagem - técnica de retorno à superfície dentro do barco) e mandei as mãos a um calhau tipo lapa, conseguindo não engolir mais pirulitos. O susto foi grande mas estimulador para futuras descidas.


Na 2ª vez que fizemos este troço do rio ( Janeiro de 1991) já o grupo era maior (erámos seis ao todo). Já tínhamos novamente o Pedro e o seu panda (para as emoções fora do rio) e até foi connosco um brasileiro, num barco de fibra que se decompôs antes de chegar ao fim. Num dia de sol esplendoroso, estava ansioso para voltar a encontrar o rápido que me tinha feito reencarnar um percebe cola do à rocha. No primeiro rápido mais técnico fizemos o resgate dum barco que ficou preso nas pedras e demorou algum tempo a convencê-lo a sair.





Depois de todos passarmos, remei apressadamente para ir ver o tal rápido mais doloroso (marmitas) e, entrei num rápido que não me lembrava mas parecia-me algo estranho e difícil. Quando cheguei ao fim, olhei para trás e verifiquei que tinha feito a tal passagem sem saber que estava a fazer. Tive de o voltar a descer para o fazer, para exorcisar definitivamente o tal fantasma da lapa no rochedo...




Mais uns quilómetros de rio e muitos e bons rápidos pelo meio, estávamos prontos para meter o dente no bife da vaca arouquesa feita pelo dono do café,talhante, dono de mini-mercado e padeiro de Canelas, uma aldeia perto do rio no concelho de Arouca. Comia-se muito e pagava-se muito pouco, o sonho de qualquer esfomeado teso. Como se não bastasse o repasto, ainda nos dava guarida no anexo que iria dar lugar ao novo mini-mercado, bem por cima da padaria.




O Paiva, considerado o rio mais limpo da Europa, tem sido sem dúvida aquele que nos tem dado mais histórias para contar ao longo dos anos. Todas as descidas são diferentes como diferentes são as aventuras. Para além destas duas descidas iniciais marcantes , ficará na memória a descida que fiz com o Pedro em regime de Non-Stop da garganta (fazer tudo sem parar para ver) um desafio algo louco, mas quando, terminado, deu para atazanar os Jorges com a nossa aventura. Outra descida com o Jorge R. feita com um nível generoso de água e a confiança no topo, em que todos os rápidos forma sendo gozados até ao tutano. Ou Aquela que fizemos os Três (eu, o Pedro e o Jorge R) com um caudal perto da cheia para preparar os pirinéus (o registo que se segue é dessa descida com muita, muita água...).




Em 2004 fica também na memória a descida/subida que fiz com o Pedro, com a corrida final, para ir buscar o carro, de 9 km sempre a subir e mais 1 a descer entre a ponte de Espiunca e a de Alvarenga...


Cambalhotas

É também no Paiva onde continuo actualmente a encontrar a minha terapia sempre que posso, muitas vezes sozinho, ali num rápido de estimação bem metido no meio do rio, onde dou algumas cambalhotas só com o ruído da água como companhia, experiência suficiente para recarregar as baterias de suporte das agruras do dia a dia. As imagens que se seguem são algumas da reinação que esse simples retorno de água no Paiva pode originar...































































Etapa de Castro D'Aire


Existe outra parte do rio que só desci pela 1ª vez no ano passado que passa mesmo em frente de Castro de Aire. Chamaram-lhe "sex-up", mas ainda não consegui encontrar qualquer associação libidinosa; o responsável lá saberá. Combinei com o amigo Luis Vieira, que já conhecia o troço e fez de cicerone. Lá fomos os dois descer num dia em que se via neve nas margens. A água estava portanto bem, ...muito bem friiiiiinha. O troço é muito engraçado, com bom desnível, bastante técnico e um pouco labiríntico. Tem a vantagem de se conseguir fazer dispensando grandes reconhecimentos fora do caiaque. Fizemos tudo aquilo num instantinho cheios de vontade de repetir.

Entretanto já o fiz mais duas vezes, a segunda com o Pedro também feito prego a fundo, só com espaço para 2 reconhecimentos das duas passagens com menos visibilidade.




A terceira , fizemos agora em Março de 2007 com o Jorge Justino . Desta última vez, foi uma alternativa ao rio Tedo onde chegámos a entrar, para abortar a descida por falta de água. Fomos assim parar ao paiva. O rio tinha menos água, obrigando a mais reconhecimentos, sob pena de ficarmos presos nos calhaus. Levámos a máquina e experimentámos uns videozecos e poucas imagens pelo carácter contínuo do rio. Ver o video AQUI

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