segunda-feira, 16 de abril de 2007

Mouro e Vez - lembrando os Alpes

9 de Dezembro de 2006




Rumámos ao Rio Mouro ali perto de Monção. Duas semanas após as grandes cheias lá fomos (Pedro, Jorge J. e eu) convencidos que os caudais já estariam mais baixos. À medida que os quilómetros passavam, e nós passávamos por cima das pontes, começámos a ver que lá para cima a chuva não teria abrandado...assim muito. Mondego em cheia, Vouga em cheia e todos os outros rios que vislumbrávamos tinham as árvores bem no meio da correnteza...sinal que a cheia continuava por ali. Não esmorecemos e fomos optimistas até à ponte de saída para o rio Mouro. Tudo aquilo era uma grande massa branca de água, levando-nos a questionar se valeria o risco...arriscarmos. Arriscámos e lá fomos nós na corrente, sempre pata a fundo, lembrando as descidas dos Alpes franceses que fizemos em 2003.
Com poucas zonas de recuperação, com bom desnível, muito frio e muita chuva pela cachimónia...










Optámos por não fazer um salto a meio do percurso porque o retorno que formava, não era muito convidativo para um mergulho sem guelras...Ao vivo, era um bocadito mais imponente...




Num dos rápidos mais desafiadores e longos do trajecto (não dava para ver bem a parte final), foi altura para sentir a consistência de um calhau bem na lateral da minha testa, levando aos mais despropositados comentários tauromáticos dos meus dois companheiros no resto da descida. Capotei em dois retornos na parte final da passagem (após o tronco que passava o rio) e senti que o meu velho capacete estava zangado comigo. Quando esquimotei e consegui uns metros mais à frente encostar, percebi que o meu corno rivalizava com um dos bois de qualquer ganadaria de sucesso. A vantagem da frescura do líquido, é que pus o corno de molho, e 5 minutos depois já só aparentava ser um cornito de bezerro no desmame. As imagem documentam a sequência do rápido....













Dizem que pareço o calimero com este capacete não sou eu que faço muuuu...


Mais umas quantas passagens e, com o adiantado da hora, decidimos sair do rio enquanto era de dia (para não repetir a penumbra do covo). A subida até à estrada, foi penosa,...muito penosaaaa.



Acabámos a comer a Vitela e o Polvo à lagareiro em Ponte de Lima (cada meia dose dá para uma família completa; piriquito incluido)






Rio Vez





Depois de uma noite bem/mal passada na pousada da juventude (sim, ...descobri que sou bué da jovem e todos os que lá pernoitaram muitos com aspecto de avôzinhos...), arrancámos até ao rio Vez. Com a experiência do Mouro íamos à espera de mais uma descida vertiginosa com carradas de água. O meu corno estava agora muito mais reduzido, penso que se escondeu talvez por não suportar o ressonar de Jorge Betoneira, que deveria ter dormido a 6 quartos de distância do nosso, mas optou por ocupar o beliche ao lado do meu. Senti-me na Terra do Asterix a ter de suportar o Bardo toda a noite a recitar uma das suas magníficas canções ...

Nem o tampão vedou os decibéis

O bardo e o ouvinte com aspecto radiante

Apesar desse "pequeno" precalço sensorial, lá fomos para o rio Vez, nunca feito por nenhum de nós. optámos por fazer um troço do rio bastante animado entre a Ermida Sr do Aflitos (o nome não augurava nada de muito bom) e a Ponte de Neval. Eram 6Km com 90 metros de desnível, que com o caudal do dia anterior , nos dava alguma garantia de diversão em segurança. Encontrámos uns quantos espanhóis na entrada do rio (sinal que não utilizam o nosso país só para nos venderem roupa, calçado, fruta, peixe e afins). Como estávamos com alguma carência calórica, optámos por não descer com nuestros hermanos, mas abastecer os nossos delicados estômagos de portugas lateiros, com duas sandes de presunto em pão de cacete, uns sumos e um copo de boa pinga que o padeiro nos obrigou a engolir (só para provar, está claro...). O nosso repasto pré-rio desenrolou-se ali num café que não ia abrir, mas perante o nossa cara de "coitadinhos que não têm nada para comer" (principalmente o raquítico do Pedro) a senhora lá nos fez o jeito. Enfardámos que nem uns condenados e entrámos no rio a arrotar. A descida revelou-se bem mais fácil do que a anterior, sempre bastante animada sem serem necessários reconhecimentos fora do barco, talvez por isso também se tiraram poucas fotografias, que apresento hoje em slideshow (que aprendi hoje a fazer e dá outra dimensão internacional e riqueza a este blogue)
















No final da descida, quando nos preparávamos para a nossa penosa e habitual corrida, o Pedro vislumbrou um senhor dentro de uma carrinha de caixa aberta a parar junto ao café (que nos deu a paparoca) e utilizou a técnica do voluntário forçado: Ó chefe, a malta paga-lhe o gasóleo e o senhor vai-nos ali levar ao local onde temos carro!?...em linguagem de Cova da Moura "ou vais lá ou a malta tem de se chatear". O pobre do homem que não ia lá...teve de ir...lá. Bendita boleia. Como estava um pouco frescote, subimos para a caixa aberta e tentámo-nos abrigar do vento. O jorge, achou que não era preciso e aqui está a sua cara, segundos antes de criar um bloco de gelo à volta da sua narigueta.

Ó p'ra mim tão contente e prestes a transformar-me em pinguim


Depois de delicada operação para descongelamento do nariz e demais orgãos salientes do Jorge (alguns (que omitimos) não tiveram salvação) regressámos ao aconchego do lar, sempre com uma ideia no pensamento: Mas será que não estamos já velhos para apanharmos com este frio e esta chuva na cachimónia?...Não!!! responde a nosso ego em uníssono, num claro exercício de autoconvencimento...e de não aceitação de que as nossas artroses agradeceriam a troca desta água fria por umas pantufinhas e uma lareira quentinha....



Um comentário:

vitorpt disse...

já te disse Miguel que essa história dos rápidos em água gelada é muito perigoso. Mas eu compreendo esses traumas de infância...
olha, não me convences com tanta água, embora agora com esta crise renal tenha de me fazer acompanhar desse precioso líquido...
à saúde!